31 de agosto de 2003

Frase
Nada é mais inabitável do que um lugar onde se foi feliz.
Cesare Pavese
Bu!
A julgar a genial explicação da Ferrari para o acidente sobrenatural com o sobrenatural Rubens Barrichello, saibam: Se chover no próximo Grande Prêmio, a culpa é do Rubinho. Alguém duvida?
Não vale a pena
A Biblioteca Pública de Belo Horizonte está jogadas as traças (sem trocadilhos), e não é da atual administração municipal ou estadual - um livro novo não é adquirido há mais de dez anos. Agora, com os cortes nas verbas da Secretaria de Cultura, funcionários são demitidos, o acesso gratuito a internet limitado, o horário de funcionamento se reduz e as sucursais, em bairros pobres, obrigadas a fechar definitivamente as portas. Fechar bibliotecas é coisa de país doente, maluco, alucinado. País que fecha suas bibliotecas não presta, esta terra de botocudos terá o destino que merece e que faz jus há pelo menos quinhentos anos: a miséria, material, intelectual e espiritual.

Ao léu
Ouvi dizer, não confirmei, que indagado sobre sua conduta no palco, o sr. Gerald Thomas teria me saído com esta, mais velha do que piada do Juquinha: Que os artistas não devem ser julgados. Se ele disse isto mesmo, falou besteira.
Artistas têm liberdade para fazer o que lhes der na telha, como qualquer um de nós, mas, como qualquer um de nós, deve responder por seus atos. Pode-se julgar a reação a suas atitudes correta, idiota, exagerada ou tímida; o certo é que nada é de graça.
Nem a arte.
Vai com Deus!
Sobre o moleque de 14 anos que acabou encontrado pela Polícia Federal ainda no Amazonas, de onde pretendia atravessar a fronteira com a Colômbia e se unir às Farc (Forças Revolucionárias Colombianas) para, nas suas palavras, "lutar contra o capitalismo", só tenho uma coisa a dizer: Vai com Deus!
Se o seu objetivo é ajudar uma guerrilha a fundar mais uma ditadura, que o faça longe do Brasil, vai pela sombra, e, por favor, não volte a nos encher a paciência e dar trabalho a Polícia Federal, porque ela tem coisa mais importante a fazer.

29 de agosto de 2003

De novo, o Terror
Terrorismo é palavra que descende do Terror pós-revolução francesa, se eu não estiver falando uma imensa besteira. É, antes de mais nada, uma política de manutenção do medo, de desestabilização do inimigo. Seus meios variam, mas em geral associamos a palavra aos atos violentos cometidos em nome da política, religião, ideologia, o escambau. Todo ato terrorista tem uma mensagem implícita e, não importa sua validade (da mensagem), todo ato terrorista é um crime contra o homem. Ponto final.
Entretanto, o terrorismo jamais será vencido. Porque mesmo que sejam punidos os terroristas (eles merecem punição, sim) e atendidas as reinvidicações justas, sempre haverá aquele que acreditará que a aceitação dos atos "benevolentes" do inimigo uma traição, uma indignidade. Este fundará outro grupo e continuará seu trabalho. Mixando auto-mitificação com auto-engano, seu discurso sempre arrebanhará seguidores, quase sempre ainda mais "engajados" do que a geração anterior de acólitos.
Uma vez implantado o medo, ele não sai tão facilmente. Quantas gerações de nova-iorquinos temerão por suas vidas, que podem ser abreviadas num momento de algum dia qualquer? - nem precisa ser 11. Israelenses, palestinos, indonésios, hindus, todos subjugados pelo medo. O objetivo do terrorismo não é matar - esta é uma das formas de ação. Com a tragédia, ele impõe sua ordem e se torna mais forte do que o Estado, atônito, incapaz de proteger os cidadãos de uma ameaça que anda ao lado deles.
É por isto que o terrorismo acaba vitorioso, mesmo depois de derrotado.
O exemplo vem de cima
No relatório dos auditores responsáveis pela investigação independente das causas do acidente trágico com a espaçonave Columbia, estava a "falta de verbas" como um dos fatores que levaram a deterioração do programa. Não interessa o que qualquer membro do governo brasileiro diga agora, a nossa tragédia espacial em Alcântara também tem muito disto.
Que um país subdesenvolvido (ou em desenvolvimento, que seja) resolva conduzir um plano espacial, nada de tão absurdo. A indústria dos satélites é cara e complexa e o domínio desta tecnologia pode ser muito interessante para um país - especialmente um situado bem na linha do Equador, cuja proximidade facilita o lançamento de foguetes.
Mas, uma vez que o país tenha se decidido por este caminho, que o faça da forma correta! Nosso programa estava errado, e seus equívocos já vêm de longa data. Corrida espacial é coisa de fôlego, de verbas, de homens altamente capacitados e dispostos - e só tínhamos o último item da lista. É questão de prioridades, que devem ser bem-definidas, levadas a sério, senão acabam na bobagem da compra dos caças pela FAB. Uma briga de foice e interesses, precocemente sepultada por uma resolução demagógica do atual governo, alegando que usaria melhor o dinheiro dos caças nos seus "programas sociais". Sim, os mesmos que jamais saem do papel e cujo Orçamento foi devidamente mutilado para o ano que vem. Alguém entende um troço destes?
Muito barulho se fez diante da possibilidade de os EUA utilizarem a base de Alcântara sem transferência de tecnologia. No auge da bestialidade do debate ideológico, houve quem mencionasse que os norte-americanos estavam arrendando uma parte do território nacional para si. Que acordo sem transferência tecnológica é uma baita burrada, nem preciso ser um gorila vesgo para saber; daí a ideologizar o debate vai um abismo, bem fundo, cheio de armadilhas. Pois bem, eis uma delas: Ninguém briga agora, quando o Brasil se prepara para assinar um acordo com a Ucrânia para que esta ex-colônia russa possa usar Alcânatara de forma bem parecida com o proposto pelos EUA. Continuamos no caminho errado.
Perdemos grandes homens naquela explosão. Oremos por eles.

28 de agosto de 2003

Às vezes, acontece
Opa, peço desculpas aos meus leitores pelo desaparecimento. A vida pessoal resolveu dar uma pequena complicada a partir da semana passada, mas acho que agora volto a normalidade - seja lá o que isso quer dizer...

21 de agosto de 2003

De novo, a estupidez
A manhã de quarta trazia a notícia da morte de Viera de Mello, vítima de atentado de grandes proporções ao prédio da ONU, em Bagdá. Enfim, o que pensar deste acontecimento?
Condenar o terrorismo é fácil e moralmente correto. Seria absurdo justificar o que aconteceu acusando a ocupação norte-americana do Iraque. O fato é que são eventos obviamente coligados e o alvo da fúria rebelde (o prédio da ONU) nos fala mais do que aparenta.
A Guerra do Iraque não é uma repetição da Guerra do Golfo; se na primeira, havia a desculpa (ou justificativa) para uma aliança de países contra o regime de Saddam liderada por Bush-pai, esta última é um conflito norte-americano, de mais ninguém. A galera de Donald Rumsfeld suou a gravata tentando convencer outros países a enviarem tropas - sem hesitar, apenas, se eu não estiver enganado, Inglaterra, Espanha e Austrália atenderam ao "chamado". A impressão que fica é que, mesmo sabendo das atrocidades cometidas pelo regime de Hussein, ninguém seria capaz de prová-las; a novela das tais armas de destruição em massa (que certamente o Iraque possui) servia para dar ares de "missão humanitária" a uma guerra como qualquer outra. Agora, o tal discurso se esvaziou diantes dos horrores de uma ocupação e das trapalhadas inglesas do pós-guerra.
A ocupação é uma época de tensões; não há ocupação pacífica. É como se o tempo da guerra estivesse se alongando por culpa exclusiva dos vencedores. Mas a questão no Oriente é outra - a guerra não terminou; e aparentemente os conservadores da Casa Branca querem nos convencer de que isto não é verdade. Muita gente avisou que o desfecho deste conflito não seria diferente, e que a ONU perderia seu papel. Aí está. O alvo do terrorismo não foi a embaixada dos EUA, mas o prédio da ONU. Tivessem os EUA saído de cena e deixado a gerência do caos iraquiano a cargo da ONU talvez (e bota talvez nisso), as coisas teriam sido um pouco distintas - ou não, diria Caetano Veloso. Não se está aqui, a afirmar que a ONU encarna o bem e os EUA o mal; se eu dissesse ou pensasse uma coisa destas, mereceria um chapéu daqueles bem pontudos enfiado no cocoruto onde se lê o nome do animal em geral associado a baixa capacidade intelectual. O que se deseja é que cada um cumpra o seu papel e saiba sair de cena na sua deixa; afinal, a esta altura do campeonato, a lambança já havia sido feita mesmo. Por outro lado, por que a ONU assumiria a responsabilidade de gerir o Iraque uma vez que o problema todo fora criado pelos EUA? Talvez porque seja esta a missão que lhe cabe, uma vez que a ocupação norte-americana não tem (nem terá) competência para a pacificação, ao contrário das ambições dos conservadores. Como se diz por aqui: sobrou para ela.
E o que trouxe esta guerra para o iraquiano comum, que temia o seu ditador local, mas que também não queria tanques estrangeiros vigiando suas ruas? Liberdade é o que não foi (ainda). O pobre coitado saiu de um inferno sufocado e passou para um possível ciclo de violências não mais tuteladas pelo Estado, mas executadas por outros sujeitos como ele. A guerra trouxe aquilo que todas trazem em seu rastro: destruição, fome, miséria e aumento do poder do Estado (no caso, do Estado norte-americano). Algumas vezes, vista de longe, a História mostra que, com o tempo, a balança que equilibra os ganhos e as perdas vai pendendo para o lado da primeira. O exemplo clássico da Segunda Guerra é óbvio demais para não ser citado - ruim com Hitler, mil vezes melhor sem ele. Isto acontecerá com esta guerra do Iraque? Ninguém sabe responder isto, a não ser o patético otimismo de gente como Donald Rumsfeld. Será possível que eles realmente acreditam que conseguirão transformar o Iraque num porto seguro para sua política, como no passado, foi feito na Coréia do Sul, por exemplo? (*) Provavelmente, acreditam.
Quebrarão a cara. O Oriente Médio é mais complicado do que julgam estes senhores do rolo compressor bélico. Veja a questão de Israel que não me deixa mentir. O futuro do Iraque pode estar ali. Vale a pena olhar a questão dos palestinos e judeus em Israel para ficar aterrorizado com o tipo de país que surgirá do Iraque atual, que não pertence a ninguém.
Se estou feliz com a deposição de um porco como Saddam Hussein? Sem dúvida. Mas não posso deixar de me preocupar com o que será feito com sua vaga e com o pouco que sobra do Iraque.
A guerra ainda está em curso.

(*) Antes que alguém venha me xingar, saiba que você está certo. O exemplo da Coréia do Sul serve apenas para citar um país que acabou "americanizado" após o fim de um conflito envolvendo os EUA e, naquele tempo, URSS e China. É óbvio que a Coréia do Sul é hoje um país de fato, ao contrário de sua irmã do norte, um reduto de atraso, fome, miséria e arrogência insolúveis a não ser com o fim do regime atual - e, espera-se, que não sejam os EUA a tentar isto. Por outro lado, os sul-coreanos e japoneses não estão errados quando se perguntam se a presença norte-americana ainda se justifica nestes dois países.

19 de agosto de 2003

Banho de sangue
Capa do jornal Hoje em Dia, daqui de Belo Horizonte: Matança em BH sobe 37%. Sim, é esta mesma a palavra: Matança. Não se trata mais de alguns assassinatos, mas de uma forma de carnificina que toma conta das grandes cidades. Enquanto o poder público cochila, finge que não é com ele, vão prosperando os negócios do submundo, com o tráfico e o assassinato pago a frente. E os cidadãos, aprendendo a conviver com novas palavras.
Post besta, nada de novo no front.
Alguém me explica?
Se estamos todos (especialmente nós, os brasileiros) tão preocupados com nossa forma física, por que o mundo está a cada dia mais obeso?
Se as crianças e adolescentes de hoje são tidos como mais "adultos" do que antes, por que acreditamos que eles são tão influenciados por tudo a que assistem na TV?
Se o Socialismo já se transformou em vinagre no mundo todo, por que a Heloísa Helena ainda tem fãs que acreditam nas suas idéias "revolucionárias"?
As respostas são óbvias, mas parece que nos contentamos com esta ambigüidade, como se fosse possível responder positivamente a cada um destes opostos. Somos esquizofrênicos e não sabíamos.
Ainda sobre o apagão do andar de cima
Não é nada, não é nada, mas se o lucro sobre a quantidade de coisas que ainda se escreverá sobre o blecaute da costa norte-americana e canadense na semana passada fosse revertido para a cidade de Nova York, com certeza cobriria o prejuízo - segundo consta, da ordem de 1 bilhão de doletas.
Já dou como certa mais uma obra de Paul Auster (Leviatã,A Invenção da Solidão, Cidade de Vidro), em que um monte de personagens, movidos pelo acaso, se encontram no dia do blecaute e, juntos, pintam um painel dos EUA contemporâneo. Ou seria Don de Lillo a fazer isto? Sei lá, mas um deles fará, pode ter certeza. Aliás, Martin Scorcese já deve estar maluco para abordar o acontecimento em seu novo filme. Ou talvez (o que é mais provável) eu esteja superestimando o evento. O mais certo é que ele dê origem a alguns filmes B nas tevês a cabo norte-americanas e canadenses e que a Danielle Steel (não sei se é assim que se escreve; e nem vou procurar saber) escreva mais um de seus best-sellers - talvez o fortuito encontro entre uma jovem estudante de jornalismo idealista e o dono da maior cadeia de emissoras de TV, numa trama rocambolesca de amor, sexo, cobiça e ambição.
Blargh! Eu nem acredito que escrevi este lixo; graças a Deus a ironia foi proposital.

18 de agosto de 2003

Consolo
Para os insatisfeitos com sua profissão atual, sugiro que olhem atentamente para a foto abaixo... Como você ainda tem coragem de reclamar do seu emprego?

16 de agosto de 2003

As massas dos EUA e a energia
Enquanto alguns ficam felizes porque a "grande nação do Norte" sofre com uma rede elétrica de Quinto Mundo que teria causado o aterrador blecaute da semana passada, este texto da revista Primeira Leitura resume, de forma admirável, a dimensão da tragédia. Ela não é técnica, ela é a derrocada do indivíduo diante de um mundo e um Estado incompreensíveis.

Falências

Triste e difícil para o homem comum, aquele de vida banal, os Bills, Ellens, Jacks, Annes, viver num mundo que não compreendem

Num mundo sem Osama Bin Laden e George W. Bush, uma ocorrência como a desta quinta-feira entupiria o noticiário destinado aos “causos” do cotidiano. Afinal, Nova York, a metrópole do mundo ocidental, parada por um apagão, os congestionamentos, milhares de pessoas em busca de transporte. Poderia mesmo ser motivo de um daqueles filmes B da vastíssima produção de filmes bês do cinema americano: tudo parado, eis uma chance para que Bill repense seu relacionamento com Mary Ellen, sua desatenção às crianças... Seria a chance perfeita para Anne ligar para Jack e encostá-lo contra a parede: já não suporta mais ser sua amante, a outra. Apostou tudo naquela relação: carreira, futuro, emoções. Um apagão desses seria, assim, um evento fora da curva a disparar uma seqüência de emoções banais reprimidas. A banalidade e o inútil da vida de cada um.

Mas não! Em vez disso, a ocorrência foi parar no noticiário de política. As agências do mundo deslocaram seus repórteres; TVs mundo afora ficaram em transmissão contínua. A suspeita, obviamente, era a de mais um atentado terrorista. Triste e difícil para o homem comum, aquele de vida banal, os Bills, Ellens, Jacks, Annes, viver num mundo que não compreendem, que parece mesmo muito acima de sua inteligência, mas que os colhe. Em vez de o apagão remeter àquela idiota psicologização da vida — mas que era ainda retrato de mundo seguro —, remete, em verdade, para o pânico, para a iminência da tragédia. As tais ocorrências fortuitas de antes pareciam ter o condão de levar cada homem para dentro de si mesmo; os de hoje, expropriam os cidadãos de sua alma e os fazem apenas peças de um coletivo insosso, desesperado, tentando traduzir a intraduzível lógica da política.

É a tradução, pelos fatos, da suspeita, quase teológica, de que o terrorismo havia ganhado a batalha pela alma dos americanos. Estão condenados a nunca mais ser banais, estão condenados a nunca mais ser indivíduos (isso na terra de Marlboro); estão condenados a nunca mais ser introspectivos. São massa mesmo. Massa de manobra do terror e da política de Estado.

Fonte: Falências, texto da Primeira Leitura.

14 de agosto de 2003

A imagem
A foto abaixo, divulgada pela Nasa, foi tirada por uma nave no momento da reentrada. O que mais dizer? (Tive que trocar o endereço, mas agora está aparecendo!)

12 de agosto de 2003

Oportunidade perdida
Sabe um daqueles momentos da vida em que tudo o que você deseja é ter ficado de boca calada? Pois bem, o nosso ministro da Justiça acaba de protagonizar um destes infelizes acontecimentos da existência.
Reagindo a estapafúrdia manifestação de um aluno contra a dona Marta Suplicy, afirmou que "jogar uma galinha numa mulher equivale a jogar um veado num homem". Parabéns, senhor ministro! Quem ainda não havia atinado para o mau gosto da metáfora do jovem que tascou a penosa no rosto da prefeita, agora não tem mais dúvidas! Mas não foi só ele; a prefeita agredida pelo pássaro e pelo adolescente ainda colocou a culpa no partido da "oposição". Hã? Um imbecil, tão tosco quanto os que enlamearam a cara do presidente do PT com uma torta, seria, na verdade, um enviado, um agente especial a serviço das forças ocultas da nação, que atendem pela sigla do partido perdedor das eleições presidenciais? Ora, dona Marta! Tenha dó! Ora, seu Ministro! Desde quando um ministro da Justiça desce ao ridículo de se expor a um protesto de moleques?
E este projeto dos "escolões" (sim, é coisa de paulista) lembra muito outros dois, de autoria de um gaúcho que ainda toca a Internacional Socialista (para quem não sabe, isto é uma música, que já deveria estar mofando no fundo do baú) no seu programa político na TV e de um mauricinho que chegou a comandar o país com tiros certeiros e golpes de judô, e acabou escorraçado do poder. Cumpre dizer que ambos os projetos não deram em nada.

11 de agosto de 2003

Rótulos
Quanto a dizer que estudo Filosofia, o máximo que posso afirmar sobre mim mesmo é que não passo de um leigo esforçado - e o digo sem grande orgulho. Filosofia não é uma brincadeira que se aprende num livro que conta a história das idéias mais "populares" no meio intelectual; é uma forma sim, de ver, pensar e "sentir" a existência. O que sei, o pouco que faço, é saber de uns tantos pensadores por livros de divulgação mais ou menos comuns. Não passo de um filosofante besta, tentando sair do lamaçal da mera opinião, procurando montar um "sistema" de entendimento do "mundo", um conjunto de princípios. Lembro-me sempre do que li em O Duelo: Churchill versus Hitler, de John Luckács, de que os princípios são valores mais elevados do que leis - claro que o autor, fascinado pela figura de Churchill, não deixa de afirmar que ele era movido por princípios. Nada disso, simplesmente me debato diante de conceitos e fatos cuja interpretação pessoal ainda fica na área tosca do "opinismo" - o famoso "eu acho que...". Filosofia? Nem em sonhos!
Ainda assim, com tão poucas idéias, já fui chamado, com muita propriedade e sinceridade por quem entende disto muito mais do que eu, de "liberal progressista" (o que pode significar um bocado de coisas, mas prefiro interpretar como "liberal democrático") e "humanista espiritualista" (entenda "espiritualista" como aquele que acredita na existência do espírito, não como um seguidor das crenças de mesmo nome). Não posso negar a perspicácia deste batismo e, mesmo rejeitando o uso de rótulos, confesso que gostei da classificação. Até onde sei, fico com ela.
Em tempo: o melhor livro sobre história da Filosofia que já li é História da Filosofia(criativo o título, não?), do espanhol Juan Marías, que encontrei num sebo numa edição portuguesa sem data. Conciso, direto ao ponto, apaixonado. Uma das melhores leituras que já tive o prazer de desbravar.
Concurso: A quem interessar possa
A revista Bravo! está promovendo um concurso cultural que premiará com caixas de CDs de gravações raras de Elvis Presley aqueles que participarem e responderem a pergunta Por que Elvis Presley revolucionou a música pop?. Maiores informações no site da revista.
Ausência
Ontem mesmo (justo ontem!) aconteceu novamente: Ouvi o barulho de chaves balançando perto da porta da sala e achei que era meu pai. Durou apenas um instante, mas foi uma boa lembrança. A dor só veio depois.

10 de agosto de 2003

Corolário
Vai, Serginhuuuuuuuuuuuuuuuu... Vai, Serginhuuuuuuuuuuuuuuuuu...
Vai, Lacraia! Vai, Lacraia! Vai, Lacraia!
Posso dizer para onde ou o horário não permite estas "liberdades"?

8 de agosto de 2003

O que foi que eu disse?
Não bastava apenas a bandeira deformada; a República Dominicana tinha que avacalhar o hino brasileiro também - e justo quando a seleção de basquete recebia sua medalha de ouro. A propósito; simbólica, porque a verdadeira mesmo eles só devem receber daqui a alguns dias - como aconteceu com outros atletas.
Não dá, eu já avisei: competições deste porte não são para países como o nosso.

6 de agosto de 2003

Perda de Hilst
Perderemos Hilda Hilst a qualquer momento. Ela irá sem (como Mário Quintana e, de certa, forma, ao contrário dele) jamais ter chegado à Academia Brasileira de Letras. Felizmente. O que faria esta senhora louca, desvairada, culta, inteligente, no meio dos imortais com seus chás e discussões sobre a ortografia oficial do português brasileiro? Melhor assim, concluo. Mas que não lamentemos sua ida, quando ela surgir.
Façamos um favor a ela, a nós e a este país grande e bobo, como diz um cronista daqui de Minas: Vamos ler Hilda Hilst.
Perguntar não ofende II
Quem lê este blog, além do próprio autor?
Mais Nélson Rodrigues
"Há sujeitos que nascem, envelhecem e morrem sem ter jamais ousado um raciocínio próprio. Há toda uma massa de frases feitas, de sentimentos feitos, de ódios feitos”
Bandidos
Na Info deste mês, Dagomir Marquezi se pergunta: Por que os brasileiros gostam tanto dos bandidos? Verdade. O último herói policial que tivemos na cultura pop desta terra foi o longínquo Vigilante Rodoviário, numa época em que eu não era sequer projeto de embrião. Bandido, aqui, é tudo gente boa - a exceção dos de colarinho branco, claro. Traficante, justiceiro, assassino de aluguel, jagunço, é tudo sangue bom, ou com dizem os cariocas, CB.
Alguns são mais espertos e sabem se aproveitar da estupidez (ingênua, de alguns; de outros, conveniente, além dos sinceramente equivocados) reinante, se maquiam como se fossem "guerreiros populares" e ganham as graças da mídia e dos intelectuais. Foi o caso do Marcinho VP, que teve até mesada paga por cineasta depois da fuga - devidamente processado por isto.
Agora entra em cartaz O Homem do Ano, baseado no livro Matador, de Patrícia Melo. Não li nem assisti um ou outro. Da Patrícia Melo, li apenas o Acqua Toffana, que gostei muito; já Inferno eu larguei no meio do caminho. Dizem que Matador é o seu melhor livro. Enfim, não posso dizer se é a imagem do cinema (vampira por natureza) que acaba por glamourizar o que, no livro, era mostrado de forma crua. O fato é que o filme glamouriza sim. Algumas produções recentes (desta safra dita "engajada"), como Cidade de Deus, conseguem escapar do esquema reinante de elogio ao crime como "forma de protesto social", enquanto Carandiru, por exemplo, se perde nele.
Outros, entretanto, mantém a lucidez: Leia-se a crítica de Pablo Vilaça, do Cinema em Cena, que termina com a seguinte constatação sobre o personagem principal de O Homem do Ano: "Mas que fique claro: Máiquel é um canalha.".

3 de agosto de 2003

Coliformes fecais
Caramba! Mal acabo de escrever o post Barbárie e leio, na web, uma notícia que apenas confirma o que escrevi! Resumo: Um artista criou uma máquina digestiva, que produz excrementos depois de alimentada. O sujeito ainda diz que sua invenção é (mais) um protesto contra o capitalismo. Tenha paciência!
Leia a matéria completa aqui. E, com licença, que estou com uma leve indigestão. Aliás, isto merece uma crônica no site. Trabalharei nisto.
Barbárie

Os irmãos Chapman, parte da chamada nova geração de artistas britânicos - aqueles da exposição "Sensations" - ,resolveram pintar rostos de macacos e palhaços sobre ilustrações originais de Goya. Não, você não leu errado; eles pintaram por cima da série "Desastres de Guerra", de Goya, que está, agora, permanentemente arruinada. Ao redor deste ato de estupidez "artística", voam os críticos idiotas que abaixam as suas cabeças para qualquer artistazinho "novo" que resolve "chocar o mercado", os empresários da área, ansiosos por patrocinarem nomes "quentes" e os que fingem entender alguma coisa, entupindo as galerias com seus comentários vazios. Toda esta gente pode gostar de se enganar. Eu não.
Artistas e empresários do meio se esquivam da questão, evocando a discussão sobre a propriedade das obras de arte (sim, os Chapman são os donos da série "Desastres de Guerra"), que não me interessa aqui. O que é realmente importante, ninguém tem coragem de admitir: a obra destes dois irmãos é pobre, ruim, burra. Ponto final.
Quase quatro anos atrás, escrevi uma carta-artigo que mandei a alguns amigos. Reproduzo trechos dela abaixo, e não mudo uma vírgula sequer:

Elogio da Banalidade
Ouvi, tempos atrás, o álbum Outsider, de David Bowie. Uma espécie de ópera ciberpunk de estranha sonoridade, o disco era acompanhado pelo diário de um certo Nathan Astler, detetive particular do século XXI. Especialista em casos escabrosos - rapto e assassinato de pessoas visando ao tráfico de seus órgãos para artistas plásticos. Ora, o que isso tem a ver com o artigo do caderno Pensar do Estado de Minas de um sábado modorrento, 24 de julho de 1999, intitulado Tempo de Ser Banal, de autoria do arquiteto e designer Paulo Laender?
O artigo trata do estado atual da arte, ou de sua ausência. Para tanto, outros três artigos são citados: Escândalos Artísticos, de Vargas Llosa, Chute Logo um Artista, de Diogo Mainardi e Fome de Bienal, dos articulistas do caderno. Vejamos as citações de citações. O que viu Llosa? "Chris Offil, de 29 anos, aluno do Royal College of Art, mostra suas obras sobre uma base de excremento de elefante solidificado... Outro escultor atulhou suas urnas de cristal com ossos humanos e até resíduos de um feto... Outra, intitulada 'Aceleração Zigótica', apresenta um leque de meninos andróginos cujos rostos são, na verdade, pênis eretos..." Diogo Mainardi:"Depois de visitar as obras dos 102 artistas de 59 países você sai com a certeza de que aquilo é puro charlatanismo(...) A americana Ann Hamilton resolveu apresentar um pozinho vermelho que cai das paredes. E daí? O francês Jean Pierre Bertrand enfileira cedros numa prateleira. E daí? A sensação predominante é de que os artistas gastam dez minutos para pensar suas obras e seis meses na tentativa de justificá-las, em vez de fazer o contrário..."
Eu continuo... Basta uma patética e falsa postura, gestos afetados, uma ou outra frase, mais ou menos elaborada, e nosso candidato torna-se um artista na mãos de marchands ávidos por divulgação e aparição. Arte? Ah, isso... faça uma instalação. Misture materiais rústicos com atuais, chame a tal intervenção do público. Não gostou? Justifique a incompletude como metáfora da existência humana, é simples, todos gostam da frase, até alguns críticos. Soa bem. Quer chocar? Decepe, decapite, exiba órgãos putrefatos, fetos em decomposição, cavalos empalhados, close-ups de genitálias. Simples. Arte, não?
Não. Esses sujeitos, com algumas exceções, ou são pobres coitados que se iludem com o que fazem ou estão muito conscientes do papel ridículo a que prestam. Mas quem vai lhes cobrar? Que público? Este que vai a Bienal como se fosse a exposição de fotos do casamento de alguma celebridade? Duvido. Assim vamos. Antes a arte era inacessível a população por ser considerada complexa – mentira. Agora, acessível, está diluída. A arte está falindo, perdeu seu significado - e não há nada de grave nisso, desde que alguém se proponha a enfrentá-la, novamente. Não é a toa que os poucos que estão conscientes disso colocaram chimpanzés para pintar.
Nesse mundinho de bárbarie de final de milênio, diríamos que a matéria-prima é a violência. Se tais artistas realmente se preocupassem em criar, pensar, elaborar, testar, discutir, encenar esta violência, eu até concordaria. Mas o andamento que dão é o de publicitários de si mesmos, de simples expositores do caos. Nada mais. Daí tanta escatologia que não chega a lugar algum, nada, esta tentativa de reaproximação com o sexo em imagens cruas, desprovidas até de estética, tão precárias que são suas propaladas instalações. Além do mal-estar, que passam? Nada. E até o mal-estar, caros artistas, passa, logo na esquina às vezes. Sem mal-estar, o que sobra destas obras? Nada. Nem sobrará, estejam certos. Por quê? Porque Mainardi está com a razão - porque estes artistas gastaram dez minutos para pensar e fazer sua obra e seis meses para justificar!
Então, quem diria, correto estava um roqueiro inglês de cinquenta anos, para quem a arte virou um painel vazio exibindo horrores banais.

2 de agosto de 2003

Deixe-me ver se entendi...
Com o fim do porte de armas de fogo, os bandidos, meliantes e salafrários que infestam nossas cidades ficarão sem ter onde comprar armamento - já que todas as lojas do gênero serão obrigadas a fechar suas portas. Como bandido, meliante e salafrário que se preza compra arma regular, faz curso registrado de tiro, avaliação psicológica e tira o porte legal, esta medida, alardeada pela mídia, será um duro golpe na indústria do crime.
A asneira é esta mesmo ou eu esqueci alguma coisa?
Nunca Mais!

O que se vê acima e que lembra vagamente a bandeira brasileira é, de fato, uma bandeira brasileira! Esta coisa foi criada pelos (des)organizadores dos jogos Pan-Americanos e apresentada a delegação do Brasil apenas no hora do desfile de abertura.
É nisso que dá fazer competições de grande porte em países como o próprio Brasil. Qual será a gafe que cometeremos daqui a quatro anos ? - sim, o nosso país sediará os próximos Pan-Americanos. Que Deus nos ajude.