30 de dezembro de 2003

Ano Novo
A todos que me acompanharam neste penoso 2003, Boas Festas e o meu agradecimento sincero.
Finalmente, para encerrar o ano, atualizações no meu site, o Anacrônicas.com: Duas crônicas e duas resenhas de cinema - claro, O Retorno do Rei é uma delas.
E que venha 2004!

27 de dezembro de 2003

Ainda o Natal II : Todos nós
Grande reportagem publicada no jornal Estado de Minas de 25 de dezembro de 2003!
Um repórter fantasiou-se de Papai Noel e andou pelo Parque Municipal, ouvindo as pessoas. Surpreendentemente, colheu depoimentos de tristeza, desespero e também esperança. Uma jovem de 23 anos, que perdera o namorado num acidente de carro, arrumou a barba falsa do repórter e afirmou: “Estou falando com o Papai Noel; não me importa quem esteja por detrás da barba”. Uma mãe desiludida com a violência e seus filhos mais velhos disse o mesmo, chora e abraça a ilusão do bom velhinho. Um menino pede um skate. Uma menina de oito anos pergunta o que ele faz ali. Um homem, idoso, faz um balanço de sua vida solitária. Uma profissional liberal bem-sucedida diz ajudar a quem precisa sempre que pode. Outra relembra de seus natais de infância e uma ainda fala da boneca falsa criada pela mãe em substituição ao pedido que o raro dinheiro da família jamais poderia atender.
Clichê, melodrama, alguns diriam. Nada disso; vida mesmo, altos e baixos, horrores e glórias, tristezas, derrotas, sonhos e a força inabalável dos mitos, mesmo este moderninho, invenção da Coca-Cola. Sorte a destas pessoas, que ainda conversam com seus mitos.
Sorte a nossa também.
Ainda o Natal I : Bobagens sérias
“Os melhores votos de um feriado do solstício de inverno ambientalmente consciente, de baixo estresse, sexualmente neutro e comemorado nas melhores tradições da religião de sua escolha, mas sem pressupor que você tenha uma opção religiosa e ao mesmo tempo respeitando a opção religiosa dos outros ou a opção deles de não participar de absolutamente nenhuma religião.”
Isto que você leu é uma mensagem de Natal escrita por um professor da Universidade Washington, em Saint Louis, EUA. Sim, eu sei que não parece, mas é. Atualmente, os norte-americanos evitam dizer Merry Christmas para não ofender pessoas de outras religiões e/ou sem opção religiosa. É o inferno politicamente correto.
A idéia que os paranóicos intelectuais do norte têm de tolerância religiosa é uma maquiagem lingüística simplória. Não passa de um conjunto de regras dizendo o quê dizer, como agir, com o intuito de evitar ao máximo ofender ao próximo, a suas crenças, suas opções. Que termos naturalmente pejorativos como niger (não há como traduzir; algo como “criolo”) sejam evitados, certo, não reclamo disto. Daí a instituir uma ditadura de costumes, uma sociedade em que todos vigiam a todos e cobram uns dos outros atitudes ensaiadas, decoradas, pateticamente falsas, a isto dou o nome de “auto-engano coletivo”. O caso do Natal é emblemático. Esta reportagem da BBC Brasil é que chamou a minha atenção para o problema.
Afirmo novamente: Não é a recusa de conviver com as particularidades de cada religião que tornará este mundinho complicado mais aceitável, mas exatamente o reconhecimento destas diferenças e seu espaço de expressão, que pode muito bem ser o mundo todo. Quando alguém de outra religião deseja a mim algo relacionado a suas crenças mais íntimas, ele não me ofende (mesmo que eu não concorde com um pingo do que ele acredita), na verdade ele está me chamando de irmão. Ele quer que sua fé seja grande o suficiente não para si, mas para o mundo. É um ato de generosidade, não de imposição ou ofensa. E já ouvi coisas que considerei estranhas, bizarras mesmo, mas ouví-las com sinceridade vindo de quem realmente acredita nelas me fez acreditar mais no homem.
O politicamente correto quer substituir a espontaneidade da vida, seus conflitos, glórias e clichês numa ditadura de intelectuais e pseudo-intelectuais, numa cápsula em que compiladores de termos “adequados” reeducam a socidade à sua (pobre) imagem e semelhança. Pergunto-me se o politicamente correto não é uma força ainda mais perversa do que a “globalização” na universalização dos costumes, na transformação da diversidade humana numa pasta insossa facilmente reconhecível por qualquer habitante de qualquer muquifo do planeta.
Por isso, digo aos norte-americanos: MERRY CHRISTIMAS, com toda a carga religiosa que este cumprimento possa ter. E desejo sinceramente que em 2004 eles sejam menos chatos e francamente menos frescos. E, por favor, dêem um jeito no politicamente correto antes que este negócio se transforme numa ditadura.
Amém.

23 de dezembro de 2003

Spam Zine, nas palavras do próprio...Spam Zine é um fanzine literário enviado por e-mail (quase) todos os domingos. Cada edição contém generosas doses de literatura falsária, jornalismo de mentirinha, justaposições inesperadas e papos nonsense ao redor de uma mesa de bar virtual.
Spam Zine é o recheio dominando o pastel, o beijo dos antípodas com tudo o que há no meio, amor livre e gostosinho para todos.

Mexe este mouse, rapaz, vai lá e assina, que vale a pena!
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Luto
Morreu, neste domingo, o artista de quadrinhos Hermes Tadeu. Colorista auto-didata e talentoso, foi abordado por um assaltante de turistas de 18 anos na praia, em Santos. Ao reagir e recusar-se a entregar a câmera de vídeo que carregava, foi alvejado no peito e não resistiu ao ferimento, falecendo ao chegar ao hospital.
Pêsames a sua família, parentes e amigos.
E a Liberdade, onde é que fica?
Pois é, andei mesmo desaparecido... E volto, na véspera da véspera de Natal só para comentar uma notícia absurda e deixar minha opinião - como se eu fizesse algo além disso.
Na França, para reforçar a separação entre a Igreja e o Estado, uma medida absurda foi acatada como grande avanço. De agora em diante, ficam proibidas manifestações religiosas "exageradas"; isto inclui as vestes tradicionais da mulheres islâmicas e até o kipá judaico (o "chapeuzinho"...). As perguntas óbvias já surgiram. Quem vai definir o que é uma manifestação religiosa "exagerada"? O Estado, claro. Mas não era este mesmo Estado que deveria defender a liberdade religiosa dos seus cidadãos? Ele fará isto impedindo-os de exercê-la? Sim, é o que está acontecendo.
Ao invés de zelar pela manutenção de um espaço livre para a expressão (e conflitos também , por que não?) dos indivíduos, agora temos governos que se dizem no direito de nos impedir de exercer nossas crenças para o "bem comum". Se isto não é um passo para uma espécie de ditadura, então não sei o que é. Verdade que a França nunca se deu muito bem com a tal democracia, que de resto, vai mal em quase todo lugar onde alguns (ói eu aqui!) acreditam nela, mas esta é outra história.
Parece-me apenas mais uma medida de um tempo refratário às religiões. Como não se consegue entendê-las, melhor trancafiá-las num seguro e confortável baú, e que sejam vistas como uma extravagância de gente tola e inculta, uma espécie de aberração sociológica. A estupidez desta medida é uma pá de cal em qualquer tentativa de tolerância entre os homens, ao contrário do que imaginam seus defensores. Não será ocultando nossas diferenças debaixo do pano protetor do Estado que as resolveremos - se é que diferenças existem para ser resolvidas, ou apenas compreendidas.
A propósito, a Alemanha segue o exemplo da França e já proibiu vestes "ostensivamente religiosas" no serviço público. O que farão as professoras islâmicas (sim, elas existem e não são poucas) senão buscar emprego na iniciativa privada?
Sem querer parecer religioso demais (claro), melhor fazer a apropriada citação cristã em tempos de Natal, "perdoai-vos, pois não sabem o que fazem..."

10 de dezembro de 2003

As frases mais irritantes de todos os tempos
Existe um conjunto de frases (clichês) ditas de vez em quando por algumas pessoas que são o cúmulo da chatice e do mau-gosto. Eu tenho duas, que são as minhas preferidas. Se uma mulher me diz um beijo no coração para você, já provocou minha úlcera latente. Que coisa baranga, minha amiga! E coração é lá lugar que se beije, que negócio nojento e sangrento! Melhor gastar seus preciosos ósculos com partes visíveis do corpo.
Dentre as duas, a pior é a que ouvi, pela primeira vez, nascida dos poderosos neurônios da Maria Meneghel, vulgo Xuxa: Se você realmente deseja algo, todo o universo conspira a seu favor. Não me pergunte onde eu vi a dona Maria aí falando tal aberração - se bem que posso estar enganado e ter visto uma entrevista com Paulo Coelho, outro que tem o péssimo hábito de ficar citando estas coisas.
De qualquer forma, sou obrigado aqui a reproduzir a maldição proferida por Alexandre Inagaki, do Pensar Enlouquece, contra todos aqueles que copiam esta pérola para arquivos PowerPoint e nos enviam por e-mail: "que Deus me perdoe, mas desejo que as pulgas de mil macacos infestem as axilas daqueles que repassam esse tipo de attachment".
Eu desejo as pulgas de dois mil macacos.
E que Deus tenha piedade de mim. E deles.

2 de dezembro de 2003

Missing
É, eu desapareci por um tempo. O trabalho acabou devorando meu tempo, o que é normal, e a disposição, o que é péssimo.