26 de fevereiro de 2005

Minhas tosqueiras literárias - I
Como não tenho glórias literárias para ostentar, não tenho vergonha alguma de comentar as maiores bobagens que já escrevi. Fato certo: todo escritor (e pretendente) sabe muito bem as asneiras que mandou para o papel. A maioria engaveta os trecos e acaba esquecendo-os; invariavelmente os ditos cujos aparecem milagrosamente alguns anos após os sujeitos partirem desta para outra. Comigo a história será diferente: salvo engano, minhas piores bobagens estão irremediavelmente perdidas. Isto, claro, na hipótese de que eu venha mesmo a publicar algo que justifique a visita póstuma aos meus alfarrábios.
Pois bem, minha primeira tosqueira literária realmente tosca, escrita aos meros 11 anos, foi um romance de ficção científica. Por favor, continue lendo, é isso mesmo. Nada tenho contra a FC (como os brasileiros carinhosamente chamam o gênero; é a Sci-Fi cabocla), mas alguns de seus clichês me parecem incrivelmente irritantes – embora, é verdade, estão cada vez mais raros. Cientistas alucinados, mocinhos charmosos e a filha gostosona do cientista apaixonada pelo rapaz que a salva de ser devorada pelo monstrengo ou pelo nanoburaco negro fazem parte do repertório de livros e filmes dos anos 30 a 60 do século passado. Curiosamente, estes fantasmas vieram assombrar meu livro de forma sutil.
O Oposto narrava a tentativa de invasão de outro planeta pelos terráqueos. Que premissa inteligente, não? Como eu não fui indicado ao prêmio Hugo com tal demonstração de criatividade, meu Deus? Talvez pelo fato de este protoromance jamais ter sido concluído (felizmente) e muito menos publicado. Havia, se me lembro bem, três personagens: um cara (o mocinho), a ex-namorada (a gostosona) e o alienígena que sabia de tudo e era perseguido pelo "governo", batizado com o ridículo nome de Tosk. Assim mesmo, com "k" no final, só para soar diferente. Não havia cientista maluco, mas o "governo" era um substituto à altura - Arquivo X que o diga. Confesso não lembrar muita coisa, mas provavelmente, era um daqueles modelitos de governo supranacionais, uma ONU inchada e metida a besta.
Não tenho nenhuma grande recordação desta joça, mas certamente foi um bom exercício para um moleque que, pouco tempo depois, descobriria autores mais interessantes e temas mais curiosos.
Em tempo: antes que venham me xingar de preconceito, sim, eu leio FC, dentre zilhões de outras coisas. Gosto de Orson Scott Card, Isaac Asimov, Arthur Clarke, Robert Heinlein, Philip K. Dick, Stanislaw Lem, Kurt Vonnegut, William Gibson e outros nomes que aprendi a ler nas páginas da finada edição brasileira da Isaac Asimov Magazine. Confesso ter pouca paciência com as séries longas e que só interessam aos nerds de último grau – ou o escritor tem algo de genuíno e inquietante a me dizer ou adeus, de porcarias como O Oposto o universo já está saturado, como já dizia a Lei de Sturgeon.

E não se esqueça, caro leitor! A série Minhas Tosqueiras Literárias voltará a qualquer momento, com novas e surpreendentes revelações sobre o passado literário sórdido deste blogueiro.
Somos amigos, amigos do peito, amigos pra valer



Eu não os conheço, a não ser pelos blogs. Mas os amigos se uniram após o assalto ao seu apartamento e criaram uma rifa bacana com um prêmio tão bacana quanto. Ainda não participei, mas em breve meu nome estará lá.
Participe também.