21 de janeiro de 2005

SubRosa
Faz algum tempo que a Meg mudou de casa.

18 de janeiro de 2005

Will Eisner
Silenciosamente, a maioria das pessoas que entende de quadrinhos no Brasil recebeu a notícia num e-mail seco, num telefonema curto: Will Eisner morreu.
Lembro-me da impressionante desenvoltura com que ele conversou com centenas de garotos (alguns deles já adultos, não necessariamente eu) quando esteve aqui pela última vez, em 2001. A primeira coisa que ele disse eu não esqueci: pensava que Belo Horizonte fosse uma pacata cidade universitária e acabou encontrando uma metrópole. Ciceroneado pelo amigo Ziraldo, respondeu a um monte de perguntas, inclusive uma simplesmente impagável:
- Sr. Eisner, antes eu gostava de quadrinhos de super-heróis, mas ultimamente todos me parecem chatos e sem graça. O que mudou no mundo dos quadrinhos nos últimos anos?
Calmamente ele respondeu da forma mais simples e incisiva possível:
- Não, meu amigo, você é que cresceu.
Eisner era descendente de judeus, viveu na Nova York do início do século XX (exatamente enquanto Henry Ford distribuía cópias da fraude anti-semita Os Protocolos dos Sábios do Sião, que seriam objeto de uma das últimas obras de Eisner, disposto a acabar de vez com a estupidez deste livro) e suas obras incorporam elementos autobiográficos elevados a estatura da universalidade. Observador agudo dos homens, tinha pelos seus personagens um carinho incrível, mesmo que os metesse nas situações mais cruéis. Dizia que sua grande escola foram os clássicos da literatura, uma pequena verdade esquecida por quase todo escritor que deseja ser alguma coisa na vida e sai querendo ser "moderno". E que isso não significa acomodação, pelo contrário. O conhecimento de literatura e quadrinhos permitiu que Eisner revolucionasse o gênero, incorporando elementos cinematográficos e gráficos comparáveis aos que Welles usaria em Cidadão Kane, exercendo uma influência na arte seqüencial (termo cunhado pelo próprio) comparável a do japonês Osamu Tezuka. Em resumo: Eisner definiu a linguagem dos quadrinhos modernos.
Criou o conceito de graphic novel, num misto de genialidade comercial (algo que nunca lhe faltou, no início da sua carreira chegou a assinar com cinco pseudônimos diferentes para cinco editoras diversas) e amor pelos quadrinhos. Sua obra Um Contrato com Deus, é uma narrativa que passeia pela vida de dezenas de pessoas comuns num prédio de Nova York e é considerada sua obra-prima. Se você ainda não conhece Eisner e precisa apenas de uma obra para entender qual a sua importância, então fique com esta.

16 de janeiro de 2005

Personagens a procura de um roteiro
Sim, eu estudo roteiros por conta própria. Ser roteirista deve ser ótimo - se o filme for uma droga, culpam o diretor, os atores, o assistente de iluminação de externas; raramente lembram que a principal razão para qualquer filme ser a porcaria que é está nas páginas que o roteirista cometeu. A não ser os críticos de cinema, é claro, mas quem os lê além dos aspirantes a roteirista?
E um dia vou participar daquele concurso do atual Ministério da Cultura cuja primeira edição pretendia "incentivar a formação de novos profissionais de roteiro" e que fizessem trabalhos que promovessem os "valores da cultura brasileira". Estou pouco me lixando para a "promoção de valores da cultura brasileira", seja lá o que isso for. Meu negócio é a universalidade, palavrinha metida que a genialidade dos nossos intelectuais equivalem a elitismo de burguesinho. Bom, de qualquer forma, acredito que eu não poderia mesmo concorrer com estes novíssimos nomes vencedores do primeiro concurso: Jorge Furtado, André Klotzel, Djalma Limongi Batista e um
professor de roteiro da USP.
É digno de um filme, não?
Ano Novo...
As propagandas de ano novo e as nossas promessas (a maioria regada a champagne e cidra, não necessariamente nesta ordem) não resistem à prova da realidade: mal iniciou-se 2005 e já temos um "novo" Big Brother na Globo. A patuléia que assiste a isto que se esbalde.

5 de janeiro de 2005

A Morte e a morte de Anacrônicas
Anos atrás, quando meu acesso a internet era discado e sofria com as constantes quedas de conexão que meu provedor de acesso me entregava como presentes muito mal embalados, criei um site: O Anacrônicas. Antes de pedir desculpas pelo nome óbvio e um tanto ridículo, digo que gosto dele. Hospedado no hpg, quando o hpg ainda não havia decidido fechar as portas para os não assinantes do iG, teve lá seus tempos de glória. Glórias pequenas, e-mails de amigos e desconhecidos elogiando ou xingando sem nenhum pudor o autor das croniquinhas que ainda habitam aquele sítio. Mas, ainda assim, glórias, por mais infímas que sejam, alimentam nossos egos sempre hipertrofiados, mesmo os dos depressivos.
Por lá confessei o quanto sou ruim do pé, elogiei o episódio dos Simpsons que tirava um sarro do Brasil (um momento de diogomainardismo), xinguei o Big Brother e o Casa dos Artistas, defendi o Papai Noel, fiz uma previsão atrasada, assumi o desejo de ser conhecido ciberneticamente e terminei tudo avacalhando um pouco o ano novo. Nada mal para um site que não chegou sequer a 6.000 acessos em toda a sua existência, mas acabou sendo notado por algumas pessoas cuja opinião sempre recebo com gratidão e cuidado.
Desde o ano passado, o Anacrônicas não recebe atualização alguma e nem a idéia de transformá-lo num portal de crônicas de autores diversos conseguiu decolar. É duro admitir o fracasso, mas o façamos com algum estilo, ao menos. E alguma notícia melhor, claro, nada mais adequado para um ano novo que mal se inicia com notícias (como sempre, como sempre...) velhas.
Por isso, aguarde a ressureição do Anacrônicas. Desta vez vai. Mas não para já.
E tenho dito.

(Ah, agora todo site no hpg abre a página principal do iG... Não se assuste, não é minha culpa.)