31 de janeiro de 2004

Feels Like Home
No último ano, tive três CDs (devidamente "ripados" para MP3, senão eu não os ouviria no meu instrumento de trabalho mais comum) que ouvi até furar: Ventura, dos Los Hermanos, a descoberta do talento de Maria Rita e Come Away With Me, de Norah Jones - só fui ouvir Queens of Stone Age atrasado, então fica fora da lista. A roupagem jazzística, um toque de country e uma bem medida porção pop são uma combinação quase irresistível. Agora ela prepara um novo álbum, um tanto assustada com a repercussão do primeiro, previsto para aportar nas lojas logo aí, no dia 10 de fevereiro. Não, Jones não possui a potência para ser lembrada pelo resto dos tempos como Holiday ou Fritzgerald, mas mescla perfeitamente seu imenso conhecimento de jazz e sua herança musical com suavidade e alguma ousadia. Não se espera que Feels Like Home represente uma ruptura tão gigantesca quanto foi, por exemplo, Ventura, o que seus recém-conquistados fãs (como eu) aguardam é apenas que ela cumpra o compromisso que ela afirma, despojada: ser ela mesma.

22 de janeiro de 2004

Putz
É, demorei para voltar - uma das razões é que estive trabalhando no novo Anacrônicas.com. O site antigo está no ar há longos dois anos, tem uma audiência meio baixa e já passou da hora de mudar este cenário. Não vou escrever mais sozinho no site; a idéia é ter um grupo de colaboradores mais ou menos periódicos, "fixos" e publicar crônicas e textos sobre cinema e literatura de quem se interessar.
Claro que eu vou limitar a bagunça, funcionando como um editor do site, teremos nossas regras e limites, como qualquer pedacinho de chão virtual que se preze. Já convido a quem se interessar para mandar um e-mail para oanacronico@uol.com.br.
Em breve, mais notícias.
Finalmente, alguém concordou comigo!
Lendo o site Burburinho, encontrei esta resenha de Nemo Nox para o filme/animação Final Fantasy. Sem dúvidas, a técnica é de cair o queixo, mas o roteiro... é um dos mais estúpidos que já vi. Ao menos alguém neste imenso universo concorda comigo.

15 de janeiro de 2004

Baixou o Diogo Mainardi em mim!
O de sempre: O Rio diz que precisa dos turistas, então dá-lhe escola de samba e mulata rebolando! É um espetáculo grotesco, terceiro-mundista, clichê cultural. Não há ninguém, ninguém nesta terra nhambiquara que veja o quanto é idiota exibir esta subserviência "feliz", "espontânea". É repulsivo ver os estrangeiros dançando (estrebuchando?), ridícula e pateticamente felizes, ao som dos nossos tambores. É um arremedo de país este que recebe os turistas; primeiro eu te ficho, depois vem cá, meu gringo cheiroso, vamos nos esbaldar nesta terra onde tudo é permitido. E ainda reclamamos de eles nos imaginarem como um bando de índios metidos em ocas e fazendo filhos como ratos pervertidos. Tenha santa paciência! Mais uma vez dizemos ao mundo que nos resumimos a isto: uma escola de samba. Quando digo que há momentos (e não são raros) em que me envergonho genuinamente de ser brasileiro, alguém me diz que "não posso pensar assim".
Olha aqui, meu amigo pseudo-patriota: Posso sim! Posso e penso! País que recebe turista com bundas e flores não é lugar sério, não passa de rascunho primitivo de algo que almeja e rejeita ser. Somos o país do signo trocado - desejamos ser aquilo que rejeitamos e nos orgulhamos de nossos defeitos. Assim, uma medida justa como o controle da entrada dos norte-americanos no país se transforma numa "revanche" contra os ricos, contra os "porcos imperialistas". Assim, um imbecil de dedo médio em riste (sim, o sr. Dave, o piloto que criou um quiprocó desnecessário no aeroporto paulistano, merece o "elogio") se torna símbolo da arrogância ianque e da nossa suposta superioridade. Pára o circo que está tudo errado!
Fichando norte-americanos ou não, continuamos a ser o país de meia-pataca que sempre fomos e seremos. Com nossa ignorância, nossa corrupção, arrogância, jeitinho, atraso, miséria, elites, burrice endêmica, intelectuais, e o escambau. Sim, meus amigos, os maiores culpados por esta terra ser isto que ela é somos nós mesmos. E merecemos a auto-crítica sim, já que ela foi soterrada por este momento estúpido de troco contra os desmandos do novo Império.
Aos norte-americanos, nem bunda, nem cadeia, apenas o justo. E está na hora de cuidar da casa. Mas isto jamais acontecerá.

14 de janeiro de 2004

Ah, estes (ultra) conservadores...
Agora o governo de George W. Bush pretende colocar em prática um programa para incentivar casamentos. A idéia é agradar a sua base conservadora e garantir mais votos para a reeleição. Seriam destinados 1,5 bilhão de dólares para a loucura, ops, o programa. Não deixa de ser curioso um governo lançar mão de uma medida oficial que afeta diretamente a privacidade e as escolhas dos indivíduos - em outras palavras, é uma bobagem sem pé nem cabeça, e que faz algum sentido para os ianques.
Mas engana-se quem acredita que os EUA são um antro de conservadorismo. A reação a tal proposta tem igual teor de mediocridade: Segundo um advogado do NOW Legal Defense and Education Fund, "Tais programas invadem a privacidade, podem ignorar o risco da violência doméstica e podem coagir as mulheres a se casarem". O sujeito acredita que todo casamento corre risco de se transformar numa masmorra medieval e que as mulheres não têm cérebro suficiente para fazer suas próprias escolhas - inclusive as erradas.
Primeiro, Bush prometeu a estação lunar e a viagem a Marte. Agora já sabemos o que ele quer fazer com os felizes casais que surgirem destas uniões patrocinadas pelo estado: Vai todo mundo colonizar o cosmo!
A propósito, nem (digo: muito menos!) se for financiado pelo governo, o autor deste post pensa em se casar tão cedo.

12 de janeiro de 2004

Um post longo, pessoal e confuso emendado com São Paulo

Minha família abandonou o interior de Minas Gerais uma geração atrás e provavelmente somos os únicos belo-horizontinos que não sentem saudades da vida interiorana. A cidade desde cedo me fascinou (certo, eu tive minha fase de biólogo mirim e sempre gostei de montanhas, floresta e mar, não tanto de praia) – acabei adotando-a definitivamente. Não era para menos, aos sete anos demos o passo definitivo rumo a nossa urbanização familiar: compramos um apartamento num bairro distante e promissor. Por sorte, estávamos certos; o bairro cresceu e agora enfrenta os conflitos de todo centro jovem. Lembro minha infância da janela do quarto que eu adorava olhar; a gente ainda vê hoje boa parte da cidade. Imaginar quem morava lá no alto dos morros, ver os carros passando pela rodovia entre árvores aparentemente gigantescas – nem sei quantas horas passei exercitando uma imaginação que se alimentava ironicamente da realidade visível aos olhos. E que realidade. Antes que uma grande fábrica no distrito industrial fosse finalmente fechada, a poluição marcava os olhos dos prédios com lágrimas de fuligem. Mesmo hoje ainda desenho cidades imensas e poluídas. Tolkien sofrera muito quando foi obrigado a se mudar, ainda menino, dos campos da África do Sul para a Inglaterra industrializada. Eu não sofri, a cidade me adotou.
Oliver Sacks (se não me engano) já disse que há um grande desprezo pela excitação da vida urbana. É verdade. Veja o Rio de Janeiro de Machado de Assis, a Dublin de Joyce, a Nova Iorque de Woody Allen, a São Paulo de Oswald e Mário – há um misto de perigo e fascínio nestes mundos urbanos, cruéis como um vilão de Dickens, irremediavelmente sedutoras, charmosas como Greta Garbo. Opressoras e belas, as cidades se espalham vorazes, devorando espaços sem pedir licença e sem educação alguma, uma tragédia anunciada e encenada milhares de vezes. Vivemos numa sociedade urbana e o caminho inescapável de todo país que se desenvolve é este.
Não há nostalgia do campo que resista a sua realidade. Nostálgicos rurais são idealistas, imaginam construir uma casa numa chácara e viver de vácuo e ócio. Bobagem. Campo é sinônimo de trabalho, duro, tão cruel quanto o urbano – homem, mulher e criança, quatorze horas por dia, contra o tempo, a terra, os bancos e o governo. Alguns ainda acreditam ser possível um retorno do homem a sua origem agrária, a sua suposta “relação harmônica com o ambiente” (meio ambiente é pleonasmo, sabemos disto). Posso estar errado. Seja como for, a escolha do meu destino “urbanóide paranóico”, nas sábias palavras de um colega, já foi feita. Duro, para este nada idealista que você lê, é viver longe das livrarias onde se conversa de graça com um estranho porque nos interessamos pela mesma prateleira. É não ter cinema (tragédia sem igual o fim das salas de exibição) para assistir a um filme-bobagem hollywoodiano ou um delicioso pastel de vento metido a intelectual. É ter como lazer apenas o bar e a praça da igreja. É estar longe do hospital, do transporte, da farmácia - embora se pague muito caro por eles. Lamento a balbúrdia, o trânsito, a violência crescente, mas pago o preço por minha escolha. Um mundo de responsabilidades e escolha. Ora, que o ócio eterno vá para o inferno – prefiro uma vida excitante e perigosa a promessa de um descanso sem razão e origem.
Então, chegamos a São Paulo. Conheço pouco dela; a av.Paulista; o Colégio Marista apinhado de adolescentes numa convenção de cultura japonesa; a garoa-personagem insistente; o jardim da Pinacoteca, caminhando com uma amiga muito querida; o museu de arte; o medo do assalto, as histórias das vítimas; o avião descendo em Congonhas como se fosse desabar sobre as ruas e os prédios; o terminal rodoviário quase insano em tantos movimentos; os fonemas de todo o mundo e brasileiros de todos os brasis – mineiros, baianos, amazonenses, cariocas, até mesmo paulistas!
Porém, não sei se viveria em São Paulo. Talvez ela extrapole minhas pretensões urbanas com sua opulência de erros e acertos. Mas não nego minha atração por ela, embora eu não a ame como a minha cidade. É que somos apenas bons amigos e, na verdade, nos vemos raramente. Tenho carinho por ela e, notem que isto não é pouco. É fácil demais odiá-la, e não raro seus habitantes agem como os parisienses, que estão sempre a reclamar da torre, do arco, do pãozinho e da má educação que lhes atribuem. Mas orgulham-se de suas contradições até como uma certa alegria.
Então é isto, São Paulo. Aprendemos a amar suas contradições - que, no final das contas, são as nossas.

10 de janeiro de 2004

Hurt

I hurt myself today
To see if I still feel
I focus on the pain
The only thing that's real
The needle tears a hold
The old familiar sting
Try to kill it all away
But I remember everything

Chorus:
What have I become
My sweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

I wear this crown of thorns
Upon my liar's chair
Full of broken thoughts
I cannot repair
Beneath the stains of time
The feelings disappear
You are someone else
I am still right here

Chorus:
What have I become
My ssweetest friend
Everyone I know goes away
In the end
And you could have it all
My empire of dirt
I will let you down
I will make you hurt

If I could start again
A million miles away
I would keep myself
I would find a way

Esta é a versão de Hurt, música do Nine Inch Nails, cantada por Johnny Cash para o videoclip que rodou e emocionou o mundo em 2003. Poucos dias depois de gravá-lo, Cash faleceu. Procure o clip, o mp3, sei lá, apenas não fique sem ouvir esta versão. É tudo.
Monstro de duas cabeças
Paul Johnson algumas pessoas conhecem; intelectual conservador, crítico do politicamente correto, autor do polêmico Intelectuais em que demole a imagem "bonitinha" desta bizarra classe, exibindo-os como foram e eram: homens e mulheres movidos por interesses mesquinhos, vaidades, mau-caratismo como qualquer um de nós. Que Johnson tenha tantos inimigos, isto é natural num meio em que o pensamento contrário ao dele é praticamente a regra. Independente de suas qualidades e problemas, não se pode negar que ele é uma das vozes mais coerentes do pensamento conservador.
Frei Betto muita gente conhece; religioso que se dedica a igualmente bizarra Teologia da Libertação, parece um dinossauro ainda a acreditar no socialismo/comunismo - curiosamente, seus livros e textos concisos fazem um sucesso extraordinário.
Difícil imaginar duas figuras mais distintas, certo? Não para o editor do Livro de Ouro dos Papas, da coleção Livro de Ouro do/da... da Ediouro, uma tradução de uma obra de divulgação escrita por Paul Johnson. Não é que Betto assina o prólogo da edição nacional? Fazendo uma comparação para lá de besta, é mais ou menos como Trótski escrevendo o prefácio de A Riqueza das Nações, de Adam Smith.
A estranha combinação desanda: Betto se aproveita para puxar a brasa para a sardinha da tal Teologia da Libertação, algo que arrepiaria os cabelos do nariz de Paul Johnson.
Mancada feia da boa coleção da Ediouro.

9 de janeiro de 2004

Perguntinha besta...
Onde estava o governo desta terra quando muitos cidadãos brasileiros, sem razão alguma, foram humilhados, submetidos a um interrogatório vil, trancados numa salinha por horas e horas nos aeroportos norte-americanos? Fazia-se turismo em ditaduras do Oriente Médio quando gente de bem foi achacada e forçada a voltar na mesma hora para a sua terrinha sob pena de extradição.
Não houve uma palavra, um pio de protesto sequer.
O outro blog
Sim, é verdade. Registrei outro blog aqui no Blogger gringo, o Gabinete do Dr.Gori - ainda está "vazio". Para quem não sacou a bobagem do título, misturei o título do filme alemão O Gabinete do Dr. Caligari com o Dr. Gori, inimigo do infame defensor japonês da Terra que assisti mil vezes na minha infância, Spectroman.
Ainda a espera de uma boa idéia para um blog de nome tão tosco.

8 de janeiro de 2004

E não é que ele tinha razão???
Rapaz, o Alexandre Inagaki acertou de novo! Acabei de experimentar o Sonho de Valsa de chocolate branco e tenho que admitir (sou um quase-chocólatra redimido): É muito bom! E eu estava com o pé atrás - especialmente depois de experimentar o xarope de angu queimado com acerola que é a Fanta Morango, qualquer novidade gastronômica comercial que aparecia pela minha frente caía na categoria de "bizarrice".
Mas o Sonho de Valsa, esta pequena iguaria que apenas nós, os brasileiros, conhecemos, acertou em cheio.
Errei feio e uma citação pertinente
Opa, errei feio quando disse que os norte-americanos não estavam lá muito preocupados com a decisão brasileira de "fichar" os cidadãos daquele país que fazem a besteira de vir aqui. Colin Powell chiou e o Celso Amorim prometeu medidas.
Li muita bobagem sobre o assunto, mas acredito que as opiniões mais interessantes vieram da revista Primeira Leitura, no artigo De novo, o marketing, de onde cito alguns trechos abaixo:

...
A decisão brasileira de fichar americanos começa a se delinear como algo mais do que um simples desgaste nas relações entre Brasil e Estados Unidos, como revelou a reação irritada do secretário de Estado dos EUA, Colin Powell. Com a entrada de Powell na polêmica, o episódio perde a impessoalidade dos embates diplomáticos — que quase nunca se exacerbam — e ganha status de desentendimento entre governos.
...
No caso, o lucro está sendo contabilizado pelo Planalto. A análise ligeira e fácil do fichamento dos americanos, segundo o princípio da reciprocidade, faz a alegria da população. Os ricos estão sendo afrontados por nativos da terra do Carnaval. As televisões não se cansam de mostrar a humilhação dos arrogantes portadores de dólares imposta pelos miseráveis do real. Que ceia farta para os que já foram os descamisados de Collor, os excluídos de FHC e que agora são os companheiros esfomeados de Lula!
...
Sim, o governo dos EUA agiu errado ao exigir a identificação de brasileiros em seus aeroportos (embora por lá o procedimento dure uns poucos instantes), enquanto preserva outras nacionalidades (cidadãos de países europeus, por exemplo) dessa discriminação. E talvez um juiz federal tenha mesmo o direito de proferir sentença exigindo o mesmo tratamento para americanos que aqui chegam. Mas o governo brasileiro tem o dever de recorrer dessa decisão se ela traz prejuízo ao país. Tanto tem que já preparou esse recurso. Por que não encaminha de uma vez? Ora, as pesquisas mostram que a retaliação aos americanos é o mais novo sucesso popular da gestão Lula.

6 de janeiro de 2004

E o Brasil, hein ?! – II

Ah sim, se o Brasil está certo em “fichar” (baita termo feio!) os turistas norte-americanos? Sim, está, pelo tal princípio da reciprocidade diplomática. Só que, para variar, fez tudo errado.
Quem deveria debater, decidir e definir regras de conduta internacionais não é um juiz do Mato Grosso, mas o Itamaraty. Sem querer desmerecer nem um (o estado) nem outro (o juiz), a cada um a sua responsabilidade - demonstramos mais uma vez a nossa confusão interna ao mundo. Esta medida deveria ser derrubada por um tempo, para que o Ministérios das Relações Exteriores tomasse as rédeas da bagunça em que ela se tornou. Não por antiamericanismo, esta bobagem que muita gente (inclusive o tal juiz, que comparou as medidas tomadas pelos EUA ao nazismo) ainda exibe como sinônimo de independência e inteligência, mas porque esta é a sua função, sua área de atuação. Ora, senhores, mas não foi este mesmo governo que quase armou uma guerra (prejudicial e desnecessária, diga-se de passagem) entre os poderes? Não foi este mesmo presidente que chamou o Judiciário de “caixa preta”? Vai lá saber. Ora, bata no peito, chama a responsabilidade para si e bota ordem na bagunça, governo! É o mínimo que a gente espera.
A propósito, a importância do Brasil no mundo das relações internacionais é, definitivamente, próxima de zero. Nenhum norte-americano reclamou da medida que foi vista com naturalidade – a não ser da demora no desembarque, claro. Os anti-americanos ficaram arrasados, coitados, já que os ianques nem deram bola para a nossa fantástica atitude anti-colonialista contra seus abusos.
Mais um a propósito: os EUA nos incluíram na lista de países suspeitos porque não respondemos aos seus pedidos de investigação de supostos grupos terroristas islâmicos lá embaixo, na Tríplice Fronteira. Supostos mesmo, porque ninguém tem indício algum de ligação alguma de qualquer um lá da ponta inferior do nosso mapa com qualquer Osama Bin Laden da vida.
E o Brasil, hein ?! - I

O Brasil é o país das oportunidades perdidas, ou, como diria a chata da Pollyana, latentes. Temos poucos turistas para tanto chão, gastamos fortunas com transporte rodoviário em estradas esburacadas quando deveríamos investir no ferroviário, consumimos e pescamos pouco peixe para tanto mar e tanto rio, temos pouco emprego, pouca oportunidade para tantos cérebros. 2004 definitivamente não será diferente. No que me diz respeito, nada mudará no cenário cultural/educacional desta terra, o que quer dizer que nada, efetivamente nada, vai melhorar significativamente - e sabe por quê? Porque nenhum país fica de pé por muito tempo sem uma base cultural sólida, coisa que não temos – está tudo disperso, separados por esforços heróicos aqui e ali, briguinhas ideológicas dispensáveis e intelectuais de meia-pataca a dar com o pau, como o bom e velho homem que falava javanês, de Lima Barreto.
“[...] duvido que um dia o Brasil venha a se tornar uma nação letrada. Se por acaso isso acontecer, certamente lerá os livros errados. Se calhar de ler os livros certos, só dirá bobagens sobre o que leu.”, escreveu Diogo Mainardi na crônica Ler não serve para nada, publicada na Veja de 28 de março de 2001.
Clique aqui (http://www.escritoriodolivro.org.br/leitura/mainardi.html) para ler a crônica completa.
De volta, de novo!

Certo, o bendito 2003 já é uma lembrança. A passagem do ano foi aquele festival de sempre. Ao contrário do Carnaval, que se contenta em ser uma repetição um tanto chata dos mesmos sambas, músicas e passos do anterior, a passagem de ano está irreversivelmente ligado a noção do novo. Esperto, o Ano Novo consegue a proeza de não ser chato. Embora eu não considere o Natal chato, apesar de ele também não superar a senaação de déja vu. Ok, eu confesso: meu problema é mesmo com o Carnval. Mas isto é assunto para outros carnavais - desculpe, eu não resisti ao trocadilho.
O fato é que o desejo de se fazer algo novo logo no início do ano tem que ser aproveitado. Aquelas promessas pessoais/estéticas/saudáveis de sempre dão o tom: parar de fumar, parar de beber, parar de olhar pelo decote da secretária do chefe antes que ele perceba e te defenestre para o olho da rua. Bom, eu pretendo coisas diferentes- algumas guardo para mim, afinal não escrevo blog para ficar contando detalhes íntimos. Fiquemos com o público, afinal: O Anacrônicas.com tem grandes ambições. Tudo vai depender dos primeiros seis meses deste ano. Detalhes em breve.
Ah, e que 2003 vá para os quintos dos infernos.