27 de julho de 2005

Bang!

É o cúmulo: até os mortos estão morrendo no Rio de Janeiro.

Ascensão, Queda e Renascimento da SuperInteressante

Dias atrás, passando em frente a uma banca de revistas usadas, não resisti e comprei um exemplar já bem gasto do primeiro número da SuperInteressante. Eu era apenas um nerd juvenil em 1988, quando aquela capa do trem vermelho levitando capturou a minha atenção. Desde então, eu me tornei um leitor voraz da revista. E não tenho vergonha alguma em admitir que parte de minha formação e curiosidade científicas foram fornecidos pela SuperInteresante e pelo Discovery Channel. Antes da Super, houve a Ciência Ilustrada, pelos idos de 83 e a Ciência Hoje, da SBPC, voltada a nerds de grau mais elevado. Mas nenhuma falava tão bem uma linguagem ao mesmo tempo simples e precisa, apoiada em infográficos e ilustrações de primeira, abrangendo vários campos da ciência, da biologia à física quântica. Até hoje, quando me perguntam sobre o que sei de alguma teoria física, respondo que tenho “cultura de SuperInteressante” e nada mais. Na primeira geração da revista, conheci Stephen Hawking, Ronaldo Rogério de Freitas Mourão, Michio Kaku, entre muitos outros, e me deparei com figuras já conhecidas, como Carl Sagan, Einstein, daVinci e o escritor Isaac Asimov. Era uma boa revista de divulgação científica. Como eu disse, era.
De uns tempos para cá, talvez motivada por queda nas vendas, a Super parecia-se mais com uma revista de polêmicas fáceis, uma espécie de Contigo do meio científico. Abraçou de vez o politicamente correto e se jogou ladeira abaixo no preconceito às religiões (com notável exceção para o budismo, que, sei lá porque cargas d’água, era sempre agraciado com pelo menos um comentário favorável a cada edição). Não raro, parecia que as reuniões para decidir as pautas das próximas edições eram algo assim:

- E aí, galera, alguma sugestão para a reportagem de capa? – pergunta o jornalista mais experiente da turma.
- Ouvi dizer que uma experiência com um tipo de quark raro pode acabar com o mundo. – levanta-se, lá no final da sala, um estagiário.
Silêncio. Canetas tamborilam na mesa. Folhas são viradas com preguiça.
- Certo, muito interessante – responde o jornalista, suspirando baixinho. – Alguém mais?
- Que tal “Por que ficamos pelados?”, incluindo uma entrevista com Stephen Tunick e uma história do naturismo com uma abordagem das roupas como um instrumento opressor da nossa natureza? – pergunta o redator meio tarado que vivia faltando às reuniões.
Finalmente, alguém perde a paciência e decide:
- Certo, vamos fazer como da última vez. Ô José, abre aí na Biblía e vê em que versículo vai cair. Vamos negar qualquer coisa aí. E tiramos no palitinho para decidir quem vai escrever a matéria desta vez.

E tome reportagem sobre Jesus, Moisés, Noé, Jesus, José, João Batista, Jesus, Maria Madalena, Judas e Jesus de novo. E estas eram intercaladas com eutanásia, direitos dos animais, suicídio, aborto, casamento gay, Alexandre o Grande (quase a mesma coisa do item anterior), código daVinci, evangélicos, medicina alternativa. Não, nenhum destes temas é inválido ou (perdoe-me o trocadilho) desinteressante, são todos relevantes, mas a abordagem metida a “séria” beirando o sensacionalismo da “nova” SuperInteressante era o que realmente me irritava.
Ou não apenas a mim. Percebendo que o público da “antiga” Super estava pouco à vontade com a “melhor revista jovem do Brasil” (um slogan idiota que poderia servir tanto a Capricho quanto a, digamos, Bizz), foram lançadas a versão brasileira da Scientific American - excelente, por sinal - e a Discovery Magazine. A própria Abril botou nas bancas uma tal de Sapiens sob a grife da Super, praticamente admitindo a asneira que andava fazendo. A Galileu sempre correu bem por fora, e depois de um tempo melhorando sensivelmente, resolveu mudar o estilo para ficar ainda mais “superinteressentesca” do que já era e está num limbo de onde não deve sair tão cedo. Justo agora que o pessoal da Abril parece ter acordado das trevas.
As últimas duas edições da Super estão muito boas. A equipe passou por uma bem-vinda renovação, os textos estão bons de verdade e os gráficos e ilustrações mais uma vez informam com beleza e humor. Não, eu não sou saudosista, não quero a Super de 1989, eu quero apenas uma revista de divulgação científica simples, visualmente atraente e que não tenha rabo preso com os conceitinhos da moda pseudointelectual da semana. É pedir muito? A reportagem sobre o nazismo toca em feridas que eu duvido sinceramente que seriam abordadas na revista de um ano atrás. Por exemplo, a monstruosa obviedade de que o nazismo pertence a modernidade do século XX tanto quanto a engenharia genética e a lata de sopa Campbell de Andy Warhol. Que Hitler fez uso da nossa crença na pureza da ciência para mentir, assassinar e tentar criar um “mundo melhor e mais belo”, tudo disfarçado por uma ideologia cujos alicerces estavam espalhados nos conceitos em voga na época, conceitos que poucos então ousariam desafiar em qualquer lugar do mundo. Como os conceitinhos que citei pouco acima.
Enfim, vida longa à renascida SuperInteressante.
Pelo menos, até a primeira reportagem dizendo que Jesus não existiu e que aquele a quem os cristãos veneram era, na verdade, um alienígena vindo do planeta Melmac e fã do Guia do Mochileiro das Galáxias.

P.S.: Sim, é verdade que a SuperInteressante pertence ao núcleo jovem da Abril e que a superficialidade de muitas de suas reportagens e temas afastou a revista do meio acadêmico anos e anos atrás. Também é verdade que é mais fácil encará-la como uma revista de variedades científicas ou quase - o que não serve de desculpa para falta de rigor ou para a forma como assuntos delicados e polêmicos eram abordados, especialmente tendo em vista a faixa etária de seu público leitor médio.

6 de julho de 2005

Aos fãs do Firefox...

Sim, eu sei. Fiz alguma asneira no novo template e melei a exibição deste blog pelo Mozilla Firefox. Se você é, assim como eu, um fã do browser, fique calmo: logo estará corrigido o bug.