29 de agosto de 2004

E as Olímpiadas, hein?
Pronto, acabaram-se as Olimpíadas. Para desespero de uns poucos e alívio de outros poucos, a "festa do esporte" em Atenas foi concluída com saldo bem positivo para o Brasil. Aliás, "festa do esporte" é daqueles clichês bestas aos quais nos acostumamos sem perceber; muito parecido com o igualmente detestável "festa da democracia" - alguém já viu um eleitor comum, como eu ou você, feliz na fila de votação? - ou "o maior espetáculo do mundo", para se referir ao Carnaval. Falando no malfadado Carnaval, descobri que a relação das pessoas com as Olímpiadas é bem parecida com a que temos com a festa de Momo. Quem gosta de verdade, vira zumbi e assiste a todas as transmissões de todas as modalidades possíveis, seja uma partida de Badminton entre Papua Nova Guiné e Kiribati às três da madrugada com narração de Galvão Bueno. Já a turma do contra finge que não é com ele, esnoba os atletas, diz que o Brasil nunca vai chegar lá e aproveita para falar mal (de novo) do Galvão Bueno.
Como já disse, sou da turma que despreza o Carnaval. Infelizmente, não posso dizer o mesmo sobre as Olimpíadas. Confesso que parei em plena tarde de trabalho para ver a Daiane não conseguir a sonhada medalha e vibrei com o ouro obtido no vôlei masculino - eu sempre gostei de vôlei e por um curto período em minha fascinante trajetória esportiva, fui um jogador ligeiramente acima da média, mas esta é outra história ridícula que, felizmente, vocês jamais lerão.
Mas que enche o saco, isso enche. A quantidade de clichês despejados por narradores, comentaristas e outros bichos esquisitos do esporte supera fácil os blogs brazucas. Toda propaganda resolve tomar uma carona - e tome "Uma Olímpiada dos Preços Baixos!", "Medalha de Ouro em Liquidações!", "Suba no pódio das ofertas!" nos ouvidos. E haja paciência para ver entrevista com os primos dos vizinhos do sobrinho do irmão do pai do atleta que levou o bronze, todos chorando em sua casinha perdida em Tinguaçu do Norte. Felizmente, uma coisa boa esta última competição nos trouxe: descobrimos que tem gente mais chata do que o Galvão Bueno (de novo!!!) narrando jogos diversos.
Por outro lado, o esporte sempre foi correia de transmissão das formas mais tolas de patriotismo (preciso citar Samuel Johnson?). O ministro dos esportes e sua comitiva lá em Atenas não me deixam esquecer de que a campanha "O melhor do Brasil é o brasileiro" vai ganhar ainda mais fôlego.
Deve ser por isso que o Diogo Mainardi, na Veja, disse que iria torcer contra.

Nota final - Alguém, por favor, avise ao padre irlandês Neil Horan que os melhores lugares para seus protestos é na Irlanda do Norte, no Afeganistão ou no Iraque. Como fez no ano passado no GP de Silverstone, Horan invadiu uma prova esportiva e conseguiu a proeza de avacalhar o maratonista brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima, que estava em primeiro lugar. Se Vanderlei iria mesmo levar o ouro ou não, ninguém jamais saberá, graças ao genial Horan.

19 de agosto de 2004

O perigo das palavras
Dando um tempo na polêmica sobre os projetos claramente autoritários de controle estatal sobre a produção cultural e o jornalismo, Lula foi se encontrar com o presidente da Costa Rica, Abel Pacheco de la Espriella, na República Dominicana - que, acredito, deve ser o penúltimo país mais miserável da América Latina, só perdendo para o Haiti. Pois Lula disse, em tom de brincadeira, segundo seus assessores, que fez "[...] agora uma viagem ao Gabão e fui aprender como é que um presidente conseguiu ficar 37 anos no poder e ainda se candidatar à reeleição”. Para quem não sabe da missa metade e só balança a cabeça para o que Jornal Nacional noticia, o tal presidente do Gabão (um poço de miséria assustadoramente igual a quase toda a África), Omar Bongo é um ditador com mão de ferro que não larga o poder há longos 37 anos. Acusado de assassinatos, prisões por motivos políticos e outras aberrações típidas de dirigentes vindos da escola de Fidel, Idi Amin e Stálin, serviu para (mais uma) piada sem graça alguma do nosso presidente.
Numa semana em que o governo acenou com tentativas de controle sobre a produção cultural, nada poderia ter sido mais despropositado.

9 de agosto de 2004

A Coluna
A COLUNA nasceu para impressionar. São textos rápidos, diretos, inteligentes e objetivos sobre todos os assuntos do momento e de grande alcance. Críticas e comentários com enfoque discutível. Do amigo Luiz Gallo, segundo o próprio - e vale muito a pena ir visitar este seu blog: http://acoluna.blogspot.com