23 de novembro de 2005

Viva o Teatro!

A convite de um amigo que faz parte do Centro de Pesquisas Teatrais, fui à apresentação de Sarau Brasileiro, coletânea de esquetes variados de peças de Martins Pena, dirigido por Ronaldo Boschi. Um espetáculo que seria muito difícil para o público de hoje, foi rapidamente compreendido e – o mais importante – apreciado por quem pôde ir. Confesso sem pudor que uma das maiores falhas na minha caótica formação cultural é o pouco conhecimento teatral; li pouco, vi pouco, sei menos ainda. De Martins Pena conhecia as peças pequenas, de comédia de costumes, sempre com um olhar mordaz sobre os “tipos” que procurava colocar no palco. Hoje desprezado por alguns, ao menos nestes enquetes, percebi nele uma universalidade simples e ao mesmo tempo cínica e carinhosa; seus personagens são os típicos brasileiros urbanos do século XIX. Cínica porque suas pequenas tramas, artimanhas, manias e tramóias ainda se encontram por aí; carinhosa por evitar a condenação moral dos seus tipos, tratando-os com dignidade sem condescendência.
Estivesse vivo, Pena riria de todos nós. Infelizmente, o nosso tempo, politicamente correto e imbecilizado, acabaria por tentar enquadrá-lo. Ironicamente, hoje sua sorte é ser passado.
A apresentação: Perfeita. Alguns esquetes foram muito curtos e os mais bem-sucedidos foram os longos, que exigiam mais atenção do público mas, paradoxalmente, também o envolvia mais. Percebe-se a escolha cuidadosa de trechos cuja linguagem pudesse ser identificada sem grandes dificuldades pelo público atual. Foram quatro meses de ensaio, certamente exaustivos, em que o carinho pelo texto e personagens ficou explícito na dedicação dos atores. Aliás, todos ótimos. Meu amigo participou dos quatro últimos esquetes, o que lhe custou a troca permanente de figurino e muito fôlego.
Parabéns a todos!
E que agora, graças a isso, eu tome vergonha e vá ao teatro mais e mais vezes.

Sarau Brasileiro

Roteiro e direção: Ronaldo Boschi

Sarau de Abertura
O Jogo do Bicho
O Cigano (de Álvares de Azevedo)
Judas em Sábado de Aleluia
O Soldado e o Sacristão
Quem Casa Quer Casa
O Noviço