26 de fevereiro de 2004

G.R.E.S. Unidos de Tolkien pede passagem
Pedro Sette Câmara, do blog O Índividuo, criou e postou este samba-enredo para o Senhor dos Anéis. Sou obrigado a reproduzí-lo aqui, pois ficou ótimo, com todos os tiques e esquisitices deste gênero musical:


Samba-enredo do Senhor dos Anéis

(seguindo a maneira de cantar dos puxadores, o leitor deve desconsiderar várias das elisões)

Olha a União do Condado aí, gente! Chora cavaco! Alô Terra Média!

Foi no reino de Mordor
que Sauron criou o anel
que espalhou tamanha dor
antes de se perder
Mas um dia – mas, um dia! –
quem não queria aventura
só viver na fantasia
conheceu toda a loucura
do anel e seu poder

Frodo (Frodo!)
Era um hobbit fascinante
de um paraíso distante
cheio de alegria e amor
Um belo dia descobriu
aquele anel do tio Bilbo
e foi assim que tudo começou

Refrão 2x

Vou salvar o mundo, eu vou
Acabar com o reino de Mordor
Destruir os orcs, sem temor
Agora a aventura me encontrou

Aragorn é cavaleiro
Grande rei da raça humana
Legolas, o elfo arqueiro
Sempre com tiros certeiros
Traço do povo imortal
Gimli é seu forte companheiro
Um anão nada ligeiro
Mas com poder descomunal

Uma sombra segue os hobbits
Como eles foi um dia
Será Gollum, será Sméagol
Mas o nome não importa
A criatura horripilante
Completamente delirante
Somente pensa no anel

Refrão ad nauseam
Resssssssssssssssssssssaca...
De volta da farra momesca, este que vos fala nada pulou, nada viu de Carnaval na TV ou jornais, isolei-me da festa desta vez. Não que eu seja de fato um folião, nunca tive lá muito jeito para a coisa. Sou doente da cabeça e do pé, péssimo jogador de futebol e sambista, não exatamente nesta ordem. Serviu o feriadão para colocar um bocado de coisas desfeitas e desorganizadas na vida pessoal em relativa ordem, para reler muito do que já escrevi, repensar algumas outras, refletir sobre um ou outro clichê de auto-ajuda e revistas Você S.A. da vida. Não tenho traumas por não participar da festança - simplesmente não seria eu se me forçasse a entrar neste jogo tropical(ista) no qual submerge o país por alguns dias. Ponto final.
O novo Anacrônicas está pronto, mas gostaria de contar com mais colaboradores escrevendo - isto vem com o tempo e alguma paciência. O site entra no ar definitivamente na segunda-feira, dia primeiro de março.
Prometo que ano que vem eu viajo para montanhas. Nada de praia, quero ar puro e rarefeito, ideal para arejar uma cabecinha mineira.

10 de fevereiro de 2004

Sim, os norte-americanos, de novo...
A fantástica capacidade de os norte-americanos se escandalizarem por qualquer bobagem é sempre subestimada. Bastou a Janet Jackson exibir rapidamente o seio direito, cujo mamilo estava coberto por um piercing ridículo em forma de estrela (ou sol, sei lá, era tosco demais para prestar atenção) para desencadear uma guerra pelo país.
Antes é preciso entender que a final do SuperBowl é o mais importante evento popular deles. Mais importante do que a final de qualquer campeonato ou copa de futebol aqui da terrinha nhambiqura, mobiliza milhões de americanos em frente a TV - e move milhões de litros de Budweiser e milhares de toneladas de frango frito. Famosos também são os shows do intervalo. Um é o Lingerie Bowl, em que dois times de beldades (as rosinhas e as branquinhas; singelo, não?, mas quem está preocupado com as cores, afinal?) disputam uma partida para delírio da platéia masculina - mas só quem vai ao estádio ou compra o evento em TV por assinatura pay-per-view pode ver a querenga. Aberto para todos é o show musical onde aconteceu a tal exposição do seio da irmã daquele cantor pop que já foi muito famoso e hoje vive de dizer que não tem nada a ver com criancinhas. Milhões assistiram a aquela estultice. Mas, ainda mais gratuito do que o ato em si foram as reações originadas.
A organização do Oscar vai atrasar o áudio em alguns segundos para decidir se deve levar ao ar ou não o que for dito pelos vencedores. Uma professora resolveu processar as emissoras de TV. O tal modelo de piercing é agora procurado nas lojas especializadas e na internet (o mesmo aconteceu quando uma personagem do seriado Sex and the City elogiou um modelo de, digamos, estimulador sexual, conhecido como Rabbit - coelho). De qualquer forma, o que torna um patético piercing um novo item na atração sexual entre homens e mulheres (e outras combinações)? Um pedaço de ferro enfiado na pele, por pura vaidade ou desejo de estar na moda. Há até uma brasileira que entrou para o Guinness por ostentar o maior número de piercings já registrado - e nem queira saber onde ela andou escondendo alguns, porque isto é segredo de estado, mas consta que o pessoal do Guinness teve de contar um a um para garantir-lhe o prêmio. Eu, particularmente, não vejo nada de especial numa mulher devidamente metalizada, mas a garotada adora. Ainda vou perguntar a um psicólogo a razão deste fetiche modernoso.
E o episódio ainda acabou respingando em Bono Vox, vocalista de primeira do U2 e militante (chato, como quase todo militante, mas parece um tanto sincero): há um ano o sujeito falou um singelo fuck na premiação do Globo de Ouro, quando venceu com a bela The Hands That Built America, do filme Gangues de Nova York. Pois bem, a FCC (Federal Communications Commission) está processando Bono por isso. Eles ainda pretendem eliminar da programação da TV qualquer palavrão - Como South Park vai sobreviver? Confesso que gosto das aventuras toscas daquela trupe de bocas-sujas, cujo longa-metragem foi recentemente exibido no SBT sem amenização de espécie alguma. Não li nada a respeito até agora.
De qualquer forma, restam aos EUA culpar o Canadá por tudo isso, como fizeram no universo do filme South Park - Bigger, Better and Uncut. Apagão na costa leste? Culpa do Canadá. Vacas loucas (não estou falando de cantoras que mostram o... 'tá bom, você já entendeu)? Canadá.
Blame Canada, blame Canada!
O Apocalipse dos Animais
Alguém andou envenenando os animais do zoológico de São Paulo. Até agora, morreram 10, incluindo um elefante, dois dromedários e quase todos os chimpanzés - a exceção de um, que agora é mantido isolado e sob estrita vigilância. Segundo os peritos, o produto químico usado é mesmo que compõe o princípio ativo do mau e velho veneno de rato, atualmente proibido, mas facilmente encontrado no mercado negro das bagaças mortíferas, como líquidos diversos, armas roubadas das Forças Armadas e discos de MC Serginho. Ainda segundo uma perita que analisou a contaminação tóxica dos bichos, basta um décimo de grama para matar um homem adulto de 70 kgs. Isso mesmo: esta coisa mata um elefante africano com a maior facildade.
A polícia já está no encalço do imbecil meliante, o primeiro psicopata perseguido pela força policial que ataca seres de outras espécies. Bom, pelo menos no zoô de Sampa.
Gato escaldado...
Convém olhar com cuidado o circo que a mídia está armando em cima de um pré-candidato democrata às eleições nos EUA este ano. Dado o histórico de bobagens cometidas pelos mais diversos meios de comunicação na hora de apoiar políticos ainda candidatos, é de se observar com toda a cautela. Já imaginou a gente tendo saudades do Bush? Argh.

6 de fevereiro de 2004

The Freak Show

Antonela foi alvo de críticas das mulheres. Em conversa com Juliana, Sol e Géris, Cida contou que a argentinha tem algumas "porquices".

- Quando ela vai experimentar uma comida, coloca na boca e cospe quando percebe que não gosta. Por que não joga no lixo ou no canto do prato?, afirmou ela, diante das manifestações de nojo das outras meninas.

Géris também comentou que seu leite sumiu e que somente Antonela e Marcelo estavam na cozinha.


A aberração acima eu extraí de uma notícia divulgada no IG e diz respeito aos sujeitos que participam do tal Big Brother Brasil 4, ou BBB4, para os íntimos. Nem preciso dizer que não perco meu escasso tempo com aqueles babacas, preciso? Mas não pude deixar de escrever algo a respeito, infelizmente, contrariando Ezra Pound, que dizia que o grande crítico deveria ocupar-se apenas dos grandes escritores. Como não sou grande crítico nem os manés do BBB grande coisa alguma, mando o conselho de Pound às favas e desço a lenha neles, sem dó.
BBB é a glorificação da inutilidade. Perceba: eles não fazem coisa alguma dentro daquela casa a não ser alimentar a estupidez das falas uns dos outros, as intrigas minúsculas que fazem a alegria de um público espectador reduzido a uma existência insignificante. A questão não é que o BBB imbeciliza, mas que ele espelha a absoulta falta de perspectivas pessoais que orienta a vida de quase todo mundo. Jogados num ambiente limitado, reagem com seus próprios limites - burros, nojentos, ignorantes, babacas no pior significado da palavra.
Aquele mesmo proferido por Pedro Bial: no BBB, ou vence o babaca ou a vagabunda.
Cuidado, porque isto vale para quem assiste também.

4 de fevereiro de 2004

Amada vida, minha morte demora
Na madrugada desta quarta-feira, aos 74 anos, faleceu Hilda Hilst, no Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas. Escritora absolutamente ímpar, parte sem que o Brasil saiba de suas letras. Não perderei tempo aqui remoendo as mazelas de uma naçãoo que não lÊ aqueles que mais tÊm valor, apenas peço que visite o Site Oficial de Hilda Hilst e leia. Se for como eu, que ainda deseja pertencer a este mundinho de textos, aprenda com ela que não se faz literatura com covardia, pudores ou vontade de agradar. Sinta-se livre para fracassar - o que, definitivamente, não foi o caso dela.
Leia, leia, leia apesar do luto.
Do mesmo site, extraio um trecho iluminado da crítica que Caio Fernando Abreu escreveu de A Obscena Senhora D, em 1982:

Sons, trinados, gritos, urros, rouquidões. Asa. Impossível aventurar-se nestas páginas sem entrega. Inútil municiar-se apenas das armas da razão. Hipnótico, o discurso de Hilda envolve como águas - às vezes lodosas, às vezes claras - e numa vertigem nos arrasta, de susto em susto, cada vez mais para perto daquilo que Joyce chamava de "o selvagem coração da vida". Onde tudo pode acontecer. De uma facada pelas costas a um apaixonado beijo de amor, "jorrando volúpia e ilusão". Traiçoeiras e sensuais, as palavras ofegam e palpitam, como se tivessem carne, sangue, músculos, nervos, ossos. E além disso: uma aura impalpável, uma alma indizível. Uma alma que procura cega, obsessiva, pelo invisível que nos disseram haver um dia: Deus.

Leia, porque o Anacrônico estará fechado hoje.

2 de fevereiro de 2004

É o fim dos tempos!
Doom é isso aí; fim dos tempos, fim de tudo, puf!, entropia, retorno a singularidade, escambau. Mas o nosso querido MyDoom é coisa mais singela - um vírus de computador, um programa criado de forma maliciosa para se aproveitar da ingenuidade alheia e fazer coisa feia no Windows dos outros. MyDoom, porém, é um tanto diferente: ele não se aproveita de uma falha específica do sistema operacional, ele confia sua eficácia no ato de abrir um arquivo anexado no e-mail. O sujeito recebe um e-mail de uma amiga com o título "Hi!" (por que a amiga escreveria em inglês é uma pergunta que sequer passeia pelos neurônios do nosso amigo... enfim...) e abre o arquivo anexado: Buemba!, diria o José Simão. O tal do MyDoom se reproduz feito coelho hermafrodita e já tasca e-mails para todo mundo que você conhece e ainda envia mensagens a partir do seu computador como se fosse um dos amigos da sua lista de contatos. Esta manobra lotou a internet nos últimos dias e parecia que todo o mundo se convertera instantaneamente numa conexão discada a provedor gratuito no domingo a tarde.
MyDoom é apenas o início. Estão vindo novos vírus por aí, tão simples quanto poderosos. Por mais que os teóricos da conspiração queiram enxergar caraminhola, com os suspeitos de sempre (a máfia russa, as empresas de anti-vírus, a CIA, a Al Qaeda ou a dona Clotildes), o mais provável é que esta diminuta e poderosa bomba cibernética tenha mesmo sido obra e graça de um moleque a fim de testar os limites da nossa frágil internet.
No mais, se você receber um e-mail do Anacrônico com o título "Hi", pode jogar fora. Primeiro, porque eu não sou jeca o suficiente para mandar mensagens com títulos em português; certamente é MyDoom se esgueirando por aí.