10 de fevereiro de 2004

Sim, os norte-americanos, de novo...
A fantástica capacidade de os norte-americanos se escandalizarem por qualquer bobagem é sempre subestimada. Bastou a Janet Jackson exibir rapidamente o seio direito, cujo mamilo estava coberto por um piercing ridículo em forma de estrela (ou sol, sei lá, era tosco demais para prestar atenção) para desencadear uma guerra pelo país.
Antes é preciso entender que a final do SuperBowl é o mais importante evento popular deles. Mais importante do que a final de qualquer campeonato ou copa de futebol aqui da terrinha nhambiqura, mobiliza milhões de americanos em frente a TV - e move milhões de litros de Budweiser e milhares de toneladas de frango frito. Famosos também são os shows do intervalo. Um é o Lingerie Bowl, em que dois times de beldades (as rosinhas e as branquinhas; singelo, não?, mas quem está preocupado com as cores, afinal?) disputam uma partida para delírio da platéia masculina - mas só quem vai ao estádio ou compra o evento em TV por assinatura pay-per-view pode ver a querenga. Aberto para todos é o show musical onde aconteceu a tal exposição do seio da irmã daquele cantor pop que já foi muito famoso e hoje vive de dizer que não tem nada a ver com criancinhas. Milhões assistiram a aquela estultice. Mas, ainda mais gratuito do que o ato em si foram as reações originadas.
A organização do Oscar vai atrasar o áudio em alguns segundos para decidir se deve levar ao ar ou não o que for dito pelos vencedores. Uma professora resolveu processar as emissoras de TV. O tal modelo de piercing é agora procurado nas lojas especializadas e na internet (o mesmo aconteceu quando uma personagem do seriado Sex and the City elogiou um modelo de, digamos, estimulador sexual, conhecido como Rabbit - coelho). De qualquer forma, o que torna um patético piercing um novo item na atração sexual entre homens e mulheres (e outras combinações)? Um pedaço de ferro enfiado na pele, por pura vaidade ou desejo de estar na moda. Há até uma brasileira que entrou para o Guinness por ostentar o maior número de piercings já registrado - e nem queira saber onde ela andou escondendo alguns, porque isto é segredo de estado, mas consta que o pessoal do Guinness teve de contar um a um para garantir-lhe o prêmio. Eu, particularmente, não vejo nada de especial numa mulher devidamente metalizada, mas a garotada adora. Ainda vou perguntar a um psicólogo a razão deste fetiche modernoso.
E o episódio ainda acabou respingando em Bono Vox, vocalista de primeira do U2 e militante (chato, como quase todo militante, mas parece um tanto sincero): há um ano o sujeito falou um singelo fuck na premiação do Globo de Ouro, quando venceu com a bela The Hands That Built America, do filme Gangues de Nova York. Pois bem, a FCC (Federal Communications Commission) está processando Bono por isso. Eles ainda pretendem eliminar da programação da TV qualquer palavrão - Como South Park vai sobreviver? Confesso que gosto das aventuras toscas daquela trupe de bocas-sujas, cujo longa-metragem foi recentemente exibido no SBT sem amenização de espécie alguma. Não li nada a respeito até agora.
De qualquer forma, restam aos EUA culpar o Canadá por tudo isso, como fizeram no universo do filme South Park - Bigger, Better and Uncut. Apagão na costa leste? Culpa do Canadá. Vacas loucas (não estou falando de cantoras que mostram o... 'tá bom, você já entendeu)? Canadá.
Blame Canada, blame Canada!

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