4 de fevereiro de 2004

Amada vida, minha morte demora
Na madrugada desta quarta-feira, aos 74 anos, faleceu Hilda Hilst, no Hospital das Clínicas da Universidade de Campinas. Escritora absolutamente ímpar, parte sem que o Brasil saiba de suas letras. Não perderei tempo aqui remoendo as mazelas de uma naçãoo que não lÊ aqueles que mais tÊm valor, apenas peço que visite o Site Oficial de Hilda Hilst e leia. Se for como eu, que ainda deseja pertencer a este mundinho de textos, aprenda com ela que não se faz literatura com covardia, pudores ou vontade de agradar. Sinta-se livre para fracassar - o que, definitivamente, não foi o caso dela.
Leia, leia, leia apesar do luto.
Do mesmo site, extraio um trecho iluminado da crítica que Caio Fernando Abreu escreveu de A Obscena Senhora D, em 1982:

Sons, trinados, gritos, urros, rouquidões. Asa. Impossível aventurar-se nestas páginas sem entrega. Inútil municiar-se apenas das armas da razão. Hipnótico, o discurso de Hilda envolve como águas - às vezes lodosas, às vezes claras - e numa vertigem nos arrasta, de susto em susto, cada vez mais para perto daquilo que Joyce chamava de "o selvagem coração da vida". Onde tudo pode acontecer. De uma facada pelas costas a um apaixonado beijo de amor, "jorrando volúpia e ilusão". Traiçoeiras e sensuais, as palavras ofegam e palpitam, como se tivessem carne, sangue, músculos, nervos, ossos. E além disso: uma aura impalpável, uma alma indizível. Uma alma que procura cega, obsessiva, pelo invisível que nos disseram haver um dia: Deus.

Leia, porque o Anacrônico estará fechado hoje.

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