6 de agosto de 2003

Bandidos
Na Info deste mês, Dagomir Marquezi se pergunta: Por que os brasileiros gostam tanto dos bandidos? Verdade. O último herói policial que tivemos na cultura pop desta terra foi o longínquo Vigilante Rodoviário, numa época em que eu não era sequer projeto de embrião. Bandido, aqui, é tudo gente boa - a exceção dos de colarinho branco, claro. Traficante, justiceiro, assassino de aluguel, jagunço, é tudo sangue bom, ou com dizem os cariocas, CB.
Alguns são mais espertos e sabem se aproveitar da estupidez (ingênua, de alguns; de outros, conveniente, além dos sinceramente equivocados) reinante, se maquiam como se fossem "guerreiros populares" e ganham as graças da mídia e dos intelectuais. Foi o caso do Marcinho VP, que teve até mesada paga por cineasta depois da fuga - devidamente processado por isto.
Agora entra em cartaz O Homem do Ano, baseado no livro Matador, de Patrícia Melo. Não li nem assisti um ou outro. Da Patrícia Melo, li apenas o Acqua Toffana, que gostei muito; já Inferno eu larguei no meio do caminho. Dizem que Matador é o seu melhor livro. Enfim, não posso dizer se é a imagem do cinema (vampira por natureza) que acaba por glamourizar o que, no livro, era mostrado de forma crua. O fato é que o filme glamouriza sim. Algumas produções recentes (desta safra dita "engajada"), como Cidade de Deus, conseguem escapar do esquema reinante de elogio ao crime como "forma de protesto social", enquanto Carandiru, por exemplo, se perde nele.
Outros, entretanto, mantém a lucidez: Leia-se a crítica de Pablo Vilaça, do Cinema em Cena, que termina com a seguinte constatação sobre o personagem principal de O Homem do Ano: "Mas que fique claro: Máiquel é um canalha.".

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