14 de maio de 2004

Vai uma vaga aí, moço?
Notícia publicada no IG Notícias: Reserva de vagas nas universidades públicas é bem recebida no Senado. Não se preocupe, não vou torrar a paciência de ninguém com mais uma lista de razões e argumentos sobre reservas de vagas (ou não). O que chamou a minha atenção no artigo foi a justificativa (ou senso de realidade, diriam alguns) dos autores da proposta. O senador Antero Paes de Barros, autor de outro projeto, não aprovado no falecido governo FHC, resumiu suas razões para a reserva de vagas para alunos da rede estatal assim: "[...]isso é bom, porque a classe média vai para a escola pública e vai exigir mais qualidade. No Brasil, pobre não tem voz, só a classe média"
Muito bem! Pobre não tem voz e os senhores políticos, eleitos por milhões de pobres em todo o país, perderam a vergonha de vez e agora afirmam isso com todas as letras. Que bom que a classe média (que pode pagar pelo ensino privado, diga-se de passagem) vai migrar para o ensino estatal porque ela tem voz ativa e vai exigir melhoria no ensino. Puxa, isto deve compensar as vagas que os garotos de classe mádia vão tirar da galera que não pode pagar pelo ensino privado, não é mesmo? Agora, vem cá, me explica outra coisa: se não há verba neste governo nem para os programas sociais dele, de onde é que as reinvindicações da classe vão encontrar eco e resposta? Ou os senhores estão sonhando em ver pais de classe média "ajudando" a manter as escolas estatais? Porque, se for por isso, façam o favor de acabar com a "gratuidade" do ensino estatal de uma vez, ao invés de se esconder por trás de subterfúgios como este.
Ou seja, as universidades estatais continuarão a ser "reduto" preferencial da classe média - nada mudou. A diferença é que agora pobre se estrepou de vez; se já não entrava mesmo nas universidades estatais (ou se matava de trabalhar para fazer curso noturno nas faculdades privadas, como eu fiz), nem educação básica vai conseguir mais. Agora eu entendi a proposta amalucada de se criar reserva para os negros, deve ser uma forma de se compensar o desmanche que esta nova medida trará.
Em resumo: ao invés de investir na educação básica, na boa formação dos alunos no ensino estatal (não importando suas origens), na preparação de todos para a disputa pelas universidades, vamos fazendo estes remendos aqui e ali, acreditando que caminhamos para o maravilhoso posto de líder dos países em desenvolvimento (leia-se "o menos pobre dos miseráveis").
Quando outro exame, como o Pisa, demonstrar, novamente, a absoluta estupidez dos alunos brasileiros, onde os senhores que pregam este "novo modelo" vão enfiar suas cabeças? Porque avestruz só existe na África e este negócio de enfiar o cocoruto na areia é um mito de desenho animado. Se é que os senhores não faltaram às aulas de Biologia.

Nenhum comentário: