12 de maio de 2004

Para encerrar o assunto de ontem...
Tem muita gente por aí dizendo que não há nada de mais na atitude do governo em chutar o jornalista do New York Times que escreveu o artigo (aliás, um péssimo artigo, incrivelmente mal redigido). Pois eu digo que há, sim, e que esta foi uma medida desastrada e inútil. Nos EUA de George W. Bush, o presidente é chamado de idiota, covarde e mentiroso dia após dia por jornalistas muito melhores do que este tal Larry Rohter. Por Deus, o que importa aos interesses nacionais, a segurança, soberania, sei lá o que mais, se um sujeito resolveu escrever que o presidente brasileiro talvez esteja se excedendo na bebida? E vejam que o colunista da Veja e polemista Diogo Mainardi escreveu a mesmíssima coisa (com tons próprios de ironia) meses atrás e não se mexeu uma palha contra ele. Então a expulsão de Larry Rohter trata-se de uma medida populista contra o "gigante do Norte"?
Destaco a seguir alguns trechos de artigos da revista Primeira Leitura sobre o caso. Você pode lê-los na íntegra aqui e aqui.

A nota que faltava, infelizmente, sai da pena do embaixador Roberto Abdenur. Em nome do Brasil, vejam lá — do meu e do seu também, leitor —, o diplomata sugere haver uma conspiração nos EUA contra o Brasil. Mergulhamos fundo no ridículo desta vez.

O governo Lula dispõe de uma secretaria de Comunicação e de um porta-voz. O Planalto está coalhado de jornalistas. A estes, sim, caberia, se se julgasse adequado, responder nem a um jornal americano, mas apenas a uma reportagem nele contida. De um representante do Estado brasileiro no Exterior cobra-se mais do que bater boca com jornalistas por causa de informações que, de resto, estão longe de pôr em risco os interesses nacionais.

O entendimento mais profundo do petismo sobre o que é uma democracia mostra a face, esta que vinha sendo mitigada pelos óbvios desastres de Lula. É triste dizer, mas é fato: fosse este governo um sucesso de público e de crítica, trilharia um caminho autoritário qualquer. De fato, nas franjas, o partido ensaia a sua vocação — desastrada, diga-se — para ser o Moderno Príncipe, como aqui muitas vezes se alertou. Felizmente, é incompetente demais para isso. Expulsão de estrangeiro do país porque o punido desagrada ao governo remete imediatamente ao padre italiano Vito Miracapillo, deportado do país em outubro de 1980, durante a moribunda ditadura do general Figueiredo.

Não há dúvida: 24 anos depois, os responsáveis pela decisão de expulsar o correspondente Larry Rohter são, claro!, Lula, Thomaz Bastos e o governo como um todo. Coonestam a decisão e por ela respondem solidariamente todos aqueles que — jornalistas sobretudo — buscaram no texto de Rohter algo além do que ali estava: uma reportagem irrelevante. Essa gente não quer democracia; quer é ditadura. Como aquela que expulsou Miracapillo. E também — é bom que fique claro — figuras de oposição se comportaram mal no episódio.

E durma-se com um barulho destes.

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