30 de junho de 2004

De Marshal Law a Arthur Clarke e intenções falaciosas
Uma das minhas HQs favoritas é Marshal Law, criada pelo roteirista Pat Mills e pelo traço furioso e anguloso de Kevin O´Neill. A graphic novel foi publicada em seis edições pela Abril lá pelos idos de 1990 e fumaça e é bem difícil de se encontrar em sebos da vida. Conta uma história complicada, curiosa e ácida, uma espécie de Watchmen se fosse escrita pelo Lobo encarnado em Alan Moore. Marshal Law é um herói que caça heróis numa San Franciso reduzida a escombros depois de um terremoto colossal. Há super-heróis decadentes para todos os gostos: membros de gangues, psicopatas, estupradores, viciados em drogas, etc. Todos refugos de uma guerra que, assim como o Vietnã, terminou em "empate" e confusão moral e ética na cabecinha dos norte-americanos. Mas o governo reage criando o Espírito Público, um super-herói a imagem e semelhança do Super-Homem, milimetricamente moldado para ser a antítese de Law e a "verdadeira face da América". Não é preciso dizer que Law o caçará, e o fará por considerá-lo culpado pela decadência vigente, já que o tal Espírito Público passou 25 anos no espaço enquanto as coisas aqui embaixo iam de vento em popa para o caos. Isto acaba por tornar o conflito ainda mais interessante e complexo - e é curioso perceber que Kurt Busiek diz quase a mesma coisa na épica e posterior Reino do Amanhã, um futuro alternativo do Apocalipse bíblico em que o Super-Homem retorna de seu auto-exílio.
Mas, para finalizar, a verdadeira razão deste post excessivamente fanboy é que eu vi a ilustração aí ao lado da capa do livro de Arthur Clarke, Prelude to Space, e me lembrei imediatamente da namorada de Joe Gilmore, a "identidade secreta" de Marshal Law, uma espécie de socióloga, Lynn. Lynn desenvolvia sua teoria para um livro no qual descreveria as maquinações eróticas por trás dos super-heróis, em especial na simbologia fálica dos mesmos. E tome herói montado em míssil, parando trens e voando ao alto de prédios gigantescos - freudismo de botequim dos bons. Aliás, Freud diria que Lynn sofre mesmo é de inveja do pênis, mas isto já é outra história...
A propósito: se puder, leia Marshal Law publicada no Brasil pela Abril, que corresponde a minissérie Fear and Loathing - os malucos Mills e O´Neil publicaram outras coisas com o personagem, algumas ainda mais bizarras, mas estas jamais deram as caras aqui na terrinha...

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