20 de maio de 2004

Nós, os brasileiros que odiamos os ianques...
Quando eu falo que parte da desastrada decisão do governo em enfiar o pé no grande glúteo do jornalista Larry Rohter pode ser creditada a crença de que qualquer medida, por mais absurda que possa parecer a primeira vista, será bem recebida pelos brasileiros pelo fato de ser antiamericana, eu não estou brincando. Vejam-se os absurdos escritos por dois leitores do jornal Estado de Minas, cujas cartas foram publicadas por lá, no dia 17 de maio:

Do leitor Rodrigo França, de Belo Horizonte...
Ao garantir a permanência do bisbilhoteiro jornalista norte-americano no Brasil, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tomou decisão no mínimo polêmica. Imaginemos a recíproca: um jornalista brasileiro registra cenas da Casa Branca, onde o sanguinário George W. Bush planeja seus jogos de guerra.

Já até imagino o Bush com um mundo de plástico pintado no chão, fazendo “vrum-vrum” com os lábios, ajoelhado com Rumsfeld e Powell, todos eles brincando de guerra mundial imperialista. Alguém andou assistindo a Senhor Fantástico demais...

O que faria o “democrático” governo dos EUA?

Daria de ombros. É o que eles fazem com todos os correspondentes estrangeiros de chamam Bush de mentiroso, covarde, burro, megalômano e ex-bêbado, todos os dias.

Melhor nem pensar. A privacidade dos homens públicos não pode ser violada por pessoas inescrupulosas.

Isso mesmo. Os homens públicos devem agora criar um cadastro de pessoas confiáveis. Aqueles que não puxarem o saco deles passam automaticamente para a categoria de destestáveis inescrupulosos.

Yankees go home!

Vão mesmo, podem ir. Perderão o país do samba, da malemolência, do tesão, da baixa escolaridade e do crescimento pífio.

Do leitor Mauro Alvim, também de Belo Horizonte...
Que direito tem um jornalista estrangeiro de enviar reportagem caluniosa envolvendo o nosso presidente para um órgão da mídia norte-americana?

Já ouviu falar de liberdade de expressão? Qualquer um tem o direito de dizer a asneira que quiser (diga-se de passagem que a tal matéria era muito ruim mesmo) e arcar com as conseqüências disso. Se você acha que a coisa tem que ser diferente, dê uma olhada nos países “desenvolvidos” que controlam todas as notícias que saem de lá: Cuba, Coréia do Norte, Turcomenistão, China (nem me falem que é uma potência econômica, já parou para pensar no que eles fazem, moralmente por lá?).

Se o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tivesse posado com um copo de uísque escocês a história seria diferente?

Seria. Os escoceses o teriam chamado para fazer comercial do Johnny Walker. Keep walking, mr. Lula. Claro, ele recusaria.

A meu ver, o presidente precisa dizer um basta a provocações deste tipo.

Isso mesmo! Daqui para frente, jornalista bom é só jornalista a favor. O resto não é confiável. Vai perder a carteirinha para circular no Congresso, não terá direito a meia entrada no cinema e se for um migrante nordestino morando em Sampa, será devolvido a Paraíba no pau-de-arara para aprender a deixar de ser bobo!

Até quando estaremos de cabeça baixa diante dos ianques que vivem se embriagando com o sangue de inocentes iraquianos e outros países, que estão “invadindo” a nossa Amazônia com “missionários” e ONGs com atitude suspeita?

Hã... Os soldados americanos, além de torturadores, agora viraram vampiros também? Pelo que sei, a maioria das ONGs que invade a Amazônia é européia...

Bem faz o nosso presidente com o “fora” para o jornalista calunioso.

Fez tanto bem que a Justiça disse que legalmente não podia. Ou o presidente não entende de leis ou entende e assumiu a “responsabilidade” de tomar uma medida autoritária. Em ambos os casos, está errado. E, se está errado, não fez bem mesmo.

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