20 de setembro de 2003

Armas e abobrinhas
Se você me perguntar se eu gostaria de ter uma arma em casa, eu responderei que não. Não me interessa nem um pouco possuir um artefato que sei muito bem que me ajudará pouco se eu precisar dele para me defender, porque certamente passarei anos e anos sem dar um tirinho sequer depois de treinado.
Não faço coro com os pacifistas radicais simplesmente porque o mundo é mais complexo do que uma passeata de milhares de pessoas vestidas de branco sugere. Há, infelizmente, momentos para força, e não é injusto usá-la para se defender de uma ameaça - isto vale tanto para países quanto para pessoas. Por outro lado, até mesmo por um princípio de ordem institucional, o monopólio do uso da força e da coerção pertence ao Estado, que a exerce por meio do poder de polícia e de julgamento. Por outro lado, juridicamente, admite-se que o cidadão faça uso da força para se defender, de forma legítima. Nada de errado nem uma proposição nem na outra.
O problema é que o Brasil não possui uma cultura de armas e violência como os EUA e a maioria dos assassinatos daqui não irrompe das casas, mas do crime organizado e desorganizado, se me perdoam o trocadilho. Daí que o tal Estatuto do Desarmamento pode ser muito bonito, matéria de telenovelas globais e o escambau, mas não vai dar em nada. Bandido que é bom mesmo não depende de cidadão honesto para prosperar (exceto na hora do roubo, claro), vai conseguir sua arma de alguma forma, no mercado paralelo. Vender o Estatuto do Desarmamento como uma conquista da sociedade num momento em que o próprio Estado cochila na hora de reprimir a criminalidade não é apenas uma abobrinha; é um atentado a minha e a sua inteligência.
Não estou aqui discutindo o conteúdo do tal Estatuto; estou apenas afirmando que ele está sendo oferecido ao país como uma panacéia. A criminalidade não vai diminuir depois de sua aprovação e as armas continuarão a ser vendidas e usadas pelos criminosos; nada, absolutamente nada terá mudado.
Mas um belo trabalho de marketing terá sido feito. E estaremos todos felizes.

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