4 de agosto de 2005

Recordações do Escrivão Garoto Juca

Alguém, pelamordeDeus, pode me explicar as razões de tanta nostalgia precoce? Sou de uma geração que mal deixou de assistir filmes da Disney (está bom: eu confesso que vejo até hoje, mas só os longas para o cinema, que eu tenho uma baita bom gosto) e já tem saudades dos anos da infância e adolescência. Ou dos símbolos que a representam, para ser mais metido – Bozo, balas Klep´s, Xuxa, Engenheiros do Hawaí, Tom & Jerry, Spectroman. A indústria da nostalgia ainda nos alimenta diariamente com filmes, revistas e canais inteiros de televisão. Ontem minha namorada havia deixado a TV ligada no Boomerang, exibindo Bibo Pai e Bobby Filho, ou vice-versa. Agüentei uns cinco minutos, a tal piada sobre a "psicologia moderna" não rende mais do que isso. Troquei pelo Jean Claude Van-Damme dando porrada em Street Fighter – algo muito mais educativo e de classe, convenhamos.
É isso: nostalgia precoce é uma piada que dura cinco minutos. Toda aquela tosqueira que a gente adorava deveria servir para arrancar uma boa gargalhada junto à velha turma, uma catarsezinha coletiva "como éramos manés" e só. O fato é que não sabemos mais apreciar o sabor breve de uma boa piada e acabamos por levá-la a sério. Nostalgia combina com uma certa condescendência, admite-se que esta ou aquela música tem seu valor por ter ocupado parte de nossas vidas. Daí a considerar que todo produto coberto de naftalina é bom, vai um abismo. É óbvio que não estou advogando a brevidade, o descartável e outras baboseiras. Há coisas que merecem a eternidade e outras, não. Há coisas de que gostamos e que são francamente idiotas. Mas a cultura da nostalgia bota tudo no mesmo saco, e haja saco.
Os brasileiros, em especial, têm uma nostalgia pervertida pelos tempos das ditaduras. Toda vez que alguém faz uma pesquisa sobre a popularidade da democracia por estas bandas, fica assustado com a quantidade de nhambiquara que não liga a mínima para isso (claro que estamos assumindo que o povo entrevistado sabe o que significa a palavra; se forem universitários, aí é que estamos perdidos mesmo). Saudade de coturno é coisa de sado-masoquista aposentado. O pessoal tem é vontade de ser mandado sem precisar pensar muito. Quem não conhece um sujeito que, a primeira oportunidade, diz que bom mesmo era o tempo dos militares ou do Getúlio Primeiro? (*)
Falando nisso, de repente me deu vontade de encontrar uma fileira de balas Klep´s. Sabe, aquelas com uns bichos feios e estilizados na embalagem, docinha até não agüentar mais? Ei, as balas Klep´s eram boas de verdade. Juro.

(*) Minha avó paterna sente falta do Fernando Collor. É uma neuropatologia ainda não estudada.

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