Alguém, pelamordeDeus, pode me explicar as razões de tanta nostalgia precoce? Sou de uma geração que mal deixou de assistir filmes da Disney (está bom: eu confesso que vejo até hoje, mas só os longas para o cinema, que eu tenho uma baita bom gosto) e já tem saudades dos anos da infância e adolescência. Ou dos símbolos que a representam, para ser mais metido – Bozo, balas Klep´s, Xuxa, Engenheiros do Hawaí, Tom & Jerry, Spectroman. A indústria da nostalgia ainda nos alimenta diariamente com filmes, revistas e canais inteiros de televisão. Ontem minha namorada havia deixado a TV ligada no Boomerang, exibindo Bibo Pai e Bobby Filho, ou vice-versa. Agüentei uns cinco minutos, a tal piada sobre a "psicologia moderna" não rende mais do que isso. Troquei pelo Jean Claude Van-Damme dando porrada em Street Fighter – algo muito mais educativo e de classe, convenhamos.
É isso: nostalgia precoce é uma piada que dura cinco minutos. Toda aquela tosqueira que a gente adorava deveria servir para arrancar uma boa gargalhada junto à velha turma, uma catarsezinha coletiva "como éramos manés" e só. O fato é que não sabemos mais apreciar o sabor breve de uma boa piada e acabamos por levá-la a sério. Nostalgia combina com uma certa condescendência, admite-se que esta ou aquela música tem seu valor por ter ocupado parte de nossas vidas. Daí a considerar que todo produto coberto de naftalina é bom, vai um abismo. É óbvio que não estou advogando a brevidade, o descartável e outras baboseiras. Há coisas que merecem a eternidade e outras, não. Há coisas de que gostamos e que são francamente idiotas. Mas a cultura da nostalgia bota tudo no mesmo saco, e haja saco.
Os brasileiros, em especial, têm uma nostalgia pervertida pelos tempos das ditaduras. Toda vez que alguém faz uma pesquisa sobre a popularidade da democracia por estas bandas, fica assustado com a quantidade de nhambiquara que não liga a mínima para isso (claro que estamos assumindo que o povo entrevistado sabe o que significa a palavra; se forem universitários, aí é que estamos perdidos mesmo). Saudade de coturno é coisa de sado-masoquista aposentado. O pessoal tem é vontade de ser mandado sem precisar pensar muito. Quem não conhece um sujeito que, a primeira oportunidade, diz que bom mesmo era o tempo dos militares ou do Getúlio Primeiro? (*)
Falando nisso, de repente me deu vontade de encontrar uma fileira de balas Klep´s. Sabe, aquelas com uns bichos feios e estilizados na embalagem, docinha até não agüentar mais? Ei, as balas Klep´s eram boas de verdade. Juro.
(*) Minha avó paterna sente falta do Fernando Collor. É uma neuropatologia ainda não estudada.
4 de agosto de 2005
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