13 de março de 2005

Sexo e baticum
Já aviso sobre meu gosto musical: não passa de uma imensa confusão. A primeira coisa a qual presto atenção quando ouço uma música é a sua letra; não tenho conhecimento técnico algum para afirmar se uma melodia é inovadora, se a harmonia é eficiente. Talvez culpa de minha formação literária em formação, o fato é que, numa primeira impressão, pouco me interessam as qualidades estritamente musicais das canções, se a letra não me disser coisa alguma, mando a composição para a lata de lixo da memória - sem dó nem piedade. Por isso afirmo o que poucos querem admitir: o funk carioca é uma porcaria maior do que muitas que já ouvimos por aí.
Que se danem os antropólogos e sociólogos que escrevem artigos exaltando as supostas qualidades libertárias sociais de uma musiquinha que narra, essencialmente, putaria e violência. Numa viagem transcendental ideológica, se fosse a juventude de classe média alta que tivesse inventado esta "cultura", seria apontada como um sintoma claro da sua degradação moral, de sua submissão ao capitalismo selvagem que transforma gente em mercadoria e, sabe-se lá como, de exclusão das camadas inferiores da população. Como é o povão (e, agora, o "mundo descolado") que canta pérolas como "Estrupra, estrupra" (é assim mesmo, não me corrijam) e "Quem que caguetou?", então está tudo certo. E a mulherada (sociólogas da USP inclusas) que acredita nestas bobagens de pós-feminismo de pobre tem mais é que receber um carimbo de "tonta" na testa, por não perceber que está correspondendo aos esterótipos mais machistas existentes enquanto acredita liderar a liberação sexual do século XXI. Parecem-se com as leitoras de revistas femininas, estas publicações que exigem que a mulher seja excelente mãe, excelente amante, profissional exemplar, gente fina, gostosa e esbelta. O engano muda de esfera, mas é rigorosamente o mesmo.
O grande legado do Brasil para a posteridade talvez seja este mesmo: o sexo brega. A sensualidade destrambelhada da Carla Perez, a boca suja do funk carioca, as pornochancadas canastronas dos anos 70 e 80. Somos orgulhosos de nossa relação gozosa (eita!) com a sensualidade, mas somos incompetentes até na hora de transformar isso em alguma referência cultural que preste.
E para finalizar: preconceito meu o escambau. Não me interessa se o sujeito é preto, branco, rico ou pobre. Faz música ruim e ponto final.

Nenhum comentário: