3 de outubro de 2004

Festa da Democracia
Voto no mesmo colégio no qual estudei por meus oito anos de primário. Geralmente, acabo encontrando alguns ex-colegas que andaram perdidos por aí. Neste ano foi diferente, havia apenas um paredão de militantes (mal e porcamente pagos, certamente) com seus "santinhos", pedindo para que eu votasse no Fulano da Padaria, Sicrano da Locadora ou Beltrano da Sex-Shop. As ruas estavam cobertas por uma camada imunda de papéis, jornais e outros artifícios para tentar fisgar eleitores de última hora - não era o meu caso, evidentemente.
Mas a felicidade de todo este povo me incomoda - o que há para se comemorar assim, com estes sorrisos bobos e promessas vazias de melhorias? Festa da democracia o escambau! Quem me conhece bem, sabe que defendo a democracia com unhas, dentes e uns sopapos, democrática e digitalmente aplicados, se necessário, mas chamar este evento de "festa" é rir em alto som da nossa inteligência.
Só ficam felizes neste festim dois tipos de idiotas. Os ridiculamente manipulados, que comparecem a comícios e outras bobagens, convictos de que estão dando um passo na melhoria de suas vidas. Estes gostam de candidatos populistas, que sobem a favela, beijam criancinha doente e fazem promessas para um paciente moribundo do SUS (leia-se o que bem entender). O outro grupo é formado por militantes, um tipinho que costuma esconder uma fúria colossal por baixo de sorrisos e promessas de solidariedade eterna, proibindo até o candidato adiversário de andar em praça pública (repito de novo: leia-se o que bem entender). Estes gostam dos candidatos à esquerda, que gostam de posar como se unanimidade fossem, não beijam criancinha, mas prometem "justiça social", que é uma forma sofisticada de populismo para ouvidos treinados.
Ah, claro, existem os bobos-alegres mesmo, mas estes sorriem até quando for anunciado o fim do mundo.
No mais, política é, em noventa e nove por cento dos casos, coisa de gente pequena, bem miudinha. Gente realmente grande faz grande política, mas estes são tempos de pouquíssimos homens assim. Nunca tive a oportunidade de votar num destes. Nem mesmo hoje.

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