9 de setembro de 2003

Nomes aos bois
Uma das maiores asneiras já inventadas são os rótulos. Se por um lado, eles são inevitáveis, embora incrivelmente simplistas, são também um clichê que pregam em alguém ou alguma coisa e que acaba muito, muito mesmo, difícil de se arrancar de lá.
No nosso país, em que a identidade política de qualquer um é resumida em "esquerda" e "direita", a coisa é ainda mais complicada, pois não há meio-tons, apenas o "bem" e o "mal" - nem preciso dizer como raciocinamos errado, preciso? Não me causa surpresa alguma quando alguém me pergunta coisas do gênero, afinal, nesta terra, sua "postura política" perante o mundo é mais importante do que sua individualidade. No Brasil não há espaço para quem deseja se livrar da atmosfera sufocante do pensamento político e politicamente correto e se guiar pelas suas descobertas, pelos seus tropeços, em busca da sua visão de mundo, única e honesta. Por isso, não respondo a esta questão, que para alguns parece tão simples, com uma palavra. É preciso um pouco de história, algum pensamento.
Um amigo uma vez me chamou de "humanista espiritualista" e outra vez de "liberal progressista". Bom, agradeço a gentileza, pois são duas "posições" dignas de se defender. Não as nego, mas lhes dou a interpretação que minha curta história permite. Por "humanista espiritualista", tomo que minha preocupação é o homem, o que é uma verdade inegável. Em seus três pilares de relacionamento com o mundo - consigo, com a sociedade e com a natureza - todo pensamento deveria se voltar para a resolução das grandes dúvidas e problemas do homem. Por "espiritualista", por favor, entendo apenas que creio na imortalidade do homem e que ele está submetido sim a uma ordem divina cuja natureza me escapa.
"Liberal progressista" é um termo vago e problemático, mas vamos a ele, porque é aqui que a suína entorta a cauda. Sou liberal, não naquele sentido clássico Adamsmithiano (um neologismo herético...), mas de uma forma que também explica o tal "progressista". Por pior que seja, a humanidade ainda não conseguiu encontrar uma fórmula de sociedade melhor do a "democracia liberal" - isso mesmo, capitalista. Sei, sei, não nego uma certa simpatia pelo anarquismo, mas é uma utopia, o "lugar algum" a que só chegaremos com sangue e perdas irreparáveis, uma idealização sem pés na realidade.
Por outro lado, a democracia é muito complicada e por vezes é tão difícil defendê-la que o único argumento válido é de que é preferível a pior democracia a melhor ditadura.
Se querem um ponto de apoio, eis o meu "marco regulatório": rejeição absoluta e irrestrita de qualquer supressão dos direitos do individuo, seja para que objetivos forem. Não adianta vir me dizer que será pelo "bem da humanidade", para "construir um mundo melhor" ou escambau; podou o indivíduo, cortou fora o homem. Sem indivíduos livres, fica o Estado sem moral, que acaba prescindindo dos homens que deveria proteger - não é a toa que todo autoritarismo descamba, mais cedo ou mais tarde, para o assassinato estatal em massa. Então, Estado de Direito neles, Estado limitado em sua atuação, definida em regras claras e conhecidas pela sociedade. Agora, até onde o Estado deve agir já é outro assunto, mas resumo em termos bem gerais: Acredito mesmo que ele deve ter momentos de maior e menor ação, de expansão estratégica dos seus tentáculos, os mesmos que, em condições normais de temperatura e pressão, mais mal causam do que bem - aí está a carga tributária brasileira que não me deixa mentir. Papéis do Estado e seus limites de atuação é um campo no qual mal engatinho, nem vou comentar muito agora.
Enfim, esquerda ou direita, em seus conceitos puros, francamente, não me interessam. Rejeito os radicalismos de ambas as facções - são equívocos que nos impedem de enxergar o mundo em sua complexidade.
Enfim, democarata, liberal, progressista, humanista e espiritualista? Está de bom tamanho, até que eu mude de idéia.
O que pode acontecer a qualquer tempo, afinal, penso por conta própria.

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