1 de abril de 2007

Hora de mudar

A era anacrônica chega ao fim. Era preciso dizer isto com uma pompa bem ridícula, para combinar com o novo blog: Universo Tangente. Zerei o contador.

13 de março de 2007

(Bi)Sonhos

Meus sonhos são freqüentemente bizarros. Até aí, tudo bem porque, caso contrário, não seriam delírios noturnos. Quem viu o filmaço Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças reconhece a esquisitice: num minuto, estamos no quarto, atravessamos a porta e vamos para um lago nas montanhas, onde uma mesa nos espera no meio de um lago enquanto nossa mãe assa peixes vivos num forno verde - e assim por diante.
Mas os meus têm características curiosas que acabam refletindo parte das minhas preferências. Numa noite destas, sonhei com um trailer de filme. Melhor dizendo: o sonho era o trailer de um filme. Uma mistura indigesta entre Todo Poderoso e Michael. O mais engraçado foi ter reconhecido o ator que faria o papel de Deus - Bill Nighy , o Davy Jones de Piratas do Caribe 2 e o Slartibartfast do Guia do Mochileiro das Galáxias. O sujeito vestia uma roupa meio largada, como se tivesse acabado de fugir do manicômio antes de eu entrar no cinema. E, para completar, o cidadão exibia uns gestos bem afetados. Provavelmente, no roteiro, descobriríamos que ele era mesmo um pobre coitado que fugiu do pinel e, tendo encontrado um jovem que tenta ajudá-lo, acaba por ensinar muitas coisas sobre a vida para o rapaz, alternado momentos engraçados, dramáticos e sublimes. Nossa, a idéia é tão idiota que Hollywood a compraria sem pestanejar.
Mas faço questão de ter Bill Nighy no elenco.

12 de março de 2007

Ziriguidum, telecoteco, balacobaco

Uma das grandes vantagens de se ficar menos jovem (eu ia escrever "envelhecer", mas quando alguém descobrisse que não tenho sequer quarenta, seria motivo de piada justa), é que perdemos alguns medos idiotas de poucos anos atrás. Por exemplo, o medo de ser antipático.
Eu detesto carnaval. Mas não dizia assim, letra por letra, usava um subterfúgio - "não tem nada a ver comigo", "prefiro aproveitar o tempo para descansar", "prefiro ver a maratona sobre a reprodução dos mamutes lanosos no Animal Planet". Agora, não. Eu detesto carnaval. Odeio. Abomino. Toda vez que me falam de carnaval, lembro-me imediatamente da sátira ao Sargentelli que o Luís Fernando Guimarães fazia na TV Pirata; dançando como um boneco de pau hiperativo, falava, sem alegria alguma: "Ziriguidum. Telecoteco. Balacobaco." E repetia o bordão umas mil vezes.
E veja que eu tentei gostar desta joça. Não, mentira. Homem não gosta de carnaval, gosta é de mulher. Então, íamos eu e mais um bandinho de losers a algum baile na adolescência só para voltar para casa sozinhos, sempre na esperança de que alguma menina desse mole. Como descobri logo que não precisava de carnaval para (não) pegar mulher alguma, desisti dos folguedos de momo. Então, pude desprezá-lo sem culpa alguma. Também não tenho inveja nenhuma de quem gosta, seria como sentir vontade de apreciar jiló com dobradinha no molho de abóbora.
Esta enrolação toda foi só para postar este ótimo link do Breves Notas e a matéria do Le Monde que diz o que os bananânios não querem admitir (só para assinantes do UOL).

Zerando o contador

Com um template mal e porcamente arrumado a partir de um dos modelos do Blogger, estou de volta. Pensei seriamente em apagar os posts anteriores, mas achei que seria muita frescura - o que está escrito ficará por aí mesmo. De resto, novas idéias e novo blog.

7 de abril de 2006

Não vi e não gostei

A verdade é que muitas das coisas que não gostamos jamais chegamos a experimentar; para dizer bem a verdade mesmo, nem precisaríamos. Ninguém deveria ser obrigado a comer chuchu; só de olhar para aquela pêra deformada, peluda e verde, qualquer cidadão de mínimo bom senso conclui que boa coisa nao sai dali. Este é o meu problema com o filme V de Vingança, baseado na HQ de 1984 de Alan Moore.
Os elogios concentram-se na "atualização" da trama da HQ, o que significa, basicamente, criticar George W. Bush. Senhores, convenhamos: criticar Bush Jr. é carne de vaca, qualquer um faz isso hoje em dia e há até quem viva exclusivamente disto.
Quando se diz que um filme "hollywoodiano" é corajoso ao apontar o dedinho acusador contra Washington, esquecem-se de duas coisas: Hollywood é maciçamente pró-democrata (republicanos como Arnold Schwarzenegger e o diretor John Millius, que não consegue emplacar um projetinho sequer, são exceção) e sua condescendência com o poder é tática, é uma relação sem a qual a indústria do cinemão norte-americano não sobreviveria. Há tantos filmes "patriotas" com os democratas no governo quanto durante a gestão republicana, mas há poucas produções criticando os primeiros (Segredos do Poder, com John "Clinton" Travolta, é uma delas, tímida demais), enquanto as que metem a mão na cara dos Bushs da vida ganham prêmios e notoriedade. Recentemente, entre os mais divulgados, tivemos Sob o Domínio do Mal, Syriana, Fahrenheit 9/11, Boa Noite e Boa Sorte e agora este V de Vingança.
Minha birra com a produção dos irmãos Wachowski (que levaram os fãs da FC ao paraíso com Matrix e ao inferno com Matrix:Revolutions) está na perda de foco da adaptação. V de Vingança, a HQ, é um libelo anarquista, sem meias palavras nem concessões (ainda que eu tenha aversão a arte "engajada", meu amigo, a HQ é uma obra-prima). É uma abordagem ideológica inteligente, que não evita a discussão sobre as ações de V (o personagem), ao mesmo tempo em que dispensa a "espetacularização" da ação e exibe a (Deus, me perdoe por usar esta palavra) "alienação" do povo inglês, mesmo enquanto V coloca em ação seu plano para derrubar o governo britânico (aquela cena da distrubuição das máscaras no trailer do filme me deu arrepios de tão estúpida). Eu vejo o final da minissérie com uma certa desesperança. Parece haver mais caos nas ruas do que a possibilidade da construção da sociedade anarquista desejada por V - não é à toa que Evey permanece para continuar o seu trabalho.
Reescrever a pregação anarquista de Moore para acomodar a ladainha anti-Bush que já nos acostumamos a ver não é coragem alguma; é obviedade. Moore estava preocupado com Margaret Thatcher e escreveu V de Vingança, a HQ, os irmãos Wachowski, preocupados com Bush, produziram V de Vingança, o filme.
Curiosamente, não é Thatcher quem é citada por V como exemplo de ditador que nós sempre colocamos no poder, mas sim Stálin, Hitler e cia. Alguns dos mais odiados governantes atuais teriam que comer muito arroz e muito feijão para chegar aos pés dos ditadores do passado. Provavelmente (e felizmente) não conseguirão, mesmo se quiserem.

24 de março de 2006

Hit do Verão

Viu alguém se safar de uma punição merecida? Era seu conhecido? Então dance a inédita Dança da Pizza. Sucesso garantido.

18 de março de 2006

De Damien Rice a Roupa Nova

Eu não sou músico, nem pretendo ser; sou absolutamente incapaz de dizer, racionalmente, em quê uma melodia é melhor ou mais bem trabalhada do que outra. Sou um ouvidor instintivo, portanto, meu gosto é uma mistura bizarra de erros e acertos - como o de qualquer pessoa medianamente normal. Por esta mesma razão, tenho aversões a coisas que muita gente boa considera muito boa. E gosto de músicas, conjuntos e cantores francamente estranhos ou tolos aos quais ninguém dá muita atenção.
Resumindo: presto mais atenção às letras. Daí que não consiga gostar de neo-sertanejo, pagode, axé e funk. Não é elitismo besta. É apenas rejeição a clichês repetidos até a exaustão e a predileção especial dos compositores destes estilos pelas metáforas de mau gosto ou, no caso do funk, ridículas mesmo. Claro que clichês podem ser trabalhados até parecerem originais e divertidos e o sujeito que consegue fazer esta mágica é um gênio. O problema é que a maioria não morre tentando - e tenta, tenta, tenta...
E, sim, tenho uma bronca com a banda Roupa Nova. O vocal é ótimo, a melodia é competente, os caras são profissionais, respeitam o seu público, fazem ótimos shows. Mas as letras, rapaz, uma tosqueira após a outra. Baba romântica a lá Sulivan e Massadas, por Deus. E como levar a sério uma banda que canta uma coisa dessas? Parece a descrição do Manimal no cio: "Eu só seguia meu instinto natural/Como um gambá, um guaxinim,/Um pato selvagem procurando calor,/Um urso no cio/Eu procurava amor". Tenha dó.
E finalmente chegamos em Damien Rice. Não sabe quem é? É o cantor/compositor que criou a canção de abertura do filme Closer (não assisti) e caiu nas graças da blogosfera brasileira. Mas eis que surgem Ana Carolina & Seu Jorge e Simone, assassinam Damien com duas versões xinfrins da belíssima "Blower´s Daughter" e fazem um baita sucesso, graças, em especial, a novela global das oito, que veicula a versão simonesca. Eu estava absolutamente alheio a confusão toda até ler este post do Inagaki, procurar a música na internet e ter que admitir: "Blower´s Daughter" é uma das melhores músicas que já ouvi. Quando, logo na segunda estrofe, explode o refrão "I Can´t take my eyes off you", você está fisgado, se lembra do que veio antes ("No love, no glory/No hero in her sky") e se descobre diante de um daqueles achados raros - beleza, muita tristeza, maturidade, uma certa ironia, a vida enfiada nuns poucos versos de uma canção.
Dá para entender a revolta com Seu Jorge & Ana Carolina. Como eles conseguiram escrever "É isso aí/Um vendedor de flores/Ensinar seus filhos a escolher seus amores", meu Deus? De Simone não se espera mesmo muita coisa - basta saber que ela conseguiu tornar amargo o panetone de todo brasileiro para se ter uma idéia do grau de ruindade de suas versões. E, pasmem, foi Zélia Duncan quem escreveu a besteira dela. A besteria de Ana e Jorge não tem explicação. Li que a música tocou em todo shopping no ano passado (para mim, música de shopping = música de elevador, não presto atenção, tudo parece Enya diluído em meia tonelada de água) e faz sucesso na novela (que não vejo), logo tornou-se insuportável.
Pena. "Blower´s Daughter" merecia sorte melhor. Nós também.

Fim de post: Também é verdade que bons letristas têm suas doses de bobajadas. Renato Russo cometeu isto. E também fez muito sucesso na trilha de uma novela. E é ruim, ruim de doer.

13 de março de 2006

Coisas que eu não entendo (1)

Andando à toa pelo Letras do Terra, procurando músicas com o verbo "fugir", me deparo com esta pérola da esquecível Wanessa Camargo, intitulada "Eu Não Resisto a Nós Dois" (no site, há uma baita crase no "a", mas quero acreditar que foi um erro de digitação de quem contribuiu com a letra).
Vejamos: Se eu não resisto à minha companheira e a mim mesmo, então eu seria algo como um bissexual auto-erótico?